ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE O JORNALISMO
ANTIGO
Por Tácito
Costa*
tacitocosta@yahoo.com.br
Bethise, querida, não alcancei Linotipo na
imprensa de Natal. A velhíssima guarda (eu sou da velha guarda), Bira Macedo,
Woden, Rudson, Arlindo Freire, podem te falar com mais propriedade sobre isso.
Quando
estagiei no Diário de Natal, em 1982, o sistema de impressão era offset. A
Tribuna do Norte, onde estagiei, em 1984, e fui contratado no ano seguinte,
também tinha adotado o offset. O processo industrial, em ambos, era analógico.
Eu tive a sorte de conhecê-lo de perto na Tribuna porque iniciei na redação,
como repórter, e depois trabalhei na oficina, como secretário gráfico.
Oficina que
era comandada por um funcionário antigo na empresa, Baltasar Pereira. O meu
trabalho era acompanhar o processo industrial como um todo. Checar legendas,
títulos, sequência das matérias de uma página para outra, fotos.
Parte desse
material era colado na página (daí o nome “paginação”) para ser transformado em
fotolito (filme transparente utilizado para gravar chapas visando à impressão).
Tudo manual e no olhômetro. Mas já um avanço considerável se comparado com o
período anterior, marcado pela utilização da Linotipo (a oitava maravilha do
mundo, para o gênio Thomas Edison).
Não era
incomum uma distração e uma legenda sair errada, texto truncado, foto trocada.
Apesar de toda a evolução tecnológica, ainda hoje, aqui e ali, deparamos com
problemas desse tipo. A parte chata de trabalhar na oficina era o horário,
geralmente eu chegava por volta das 20 horas e saía às 2 horas da manhã, se
tudo corresse bem.
Somente anos
depois, quando virei editor, foi que me dei conta de como tinha sido importante
para minha formação profissional essa passagem pela oficina da Tribuna. Pra
você como são as coisas, Bethise, o editor que me transferiu para a oficina
pensou que estava me fazendo um mal.
Linotipo só
conheci na minha primeira passagem pela Assessoria de Imprensa da Fundação José
Augusto, na década de 1980, na Gráfica Manimbu, da instituição. Acho que foi
desativada há alguns anos.
Uma memória
puxa outra. É bom ter um passado para compartilhar. Estava pensando nesse texto
para responder a Bethise, quando ele deu as caras aqui na redação. Uma colega
de trabalho, que está organizando o arquivo fotográfico, mostrou-me alguns
exemplares do jornal que editei a partir de 1994 no Sistema Fiern. Começou
trimestral, tamanho A3, preto e branco, e depois virou bimestral e tablóide,
colorido.
Hoje, aquele
processo parece complexo e até surreal. Naqueles anos era como se podia fazer.
Escrevia as matérias à máquina datilográfica, usando papel carbono (na TN e no
DN era igual), como precaução para o caso de extravio.
Juntava os
textos, titulava, e trimestralmente levava-os em mãos até à Gráfica Clima, na
Ribeira, para Fátima digitar e diagramar. Sempre tendo muito cuidado em guardar
as cópias em papel carbono. No início, a diagramação era manual. Depois, ela
passou a diagramar no computador, no Pagemaker. Um avanço extraordinário. No
Pagemaker, ela diagramava comigo ao lado, orientando e fazendo as correções.
De tanto
acompanhar eu aprendi a mexer no programa e tempos depois, quando chegaram os
computadores na Fiern, eu mesmo passei a diagramar. Aí já era outra época, em
que as velhas máquinas datilográficas deram lugar aos modernos processadores da
Intel 286 (lançado em 1982), e na sequência 386, 486, e aos disquetes, avanços
extraordinários, que mudaram radicalmente a nossa forma de trabalhar e deram
início a uma nova e desafiadora era no jornalismo.
*Artigo publicado pelo autor em sua coluna
no site Substantivo Plural
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