A guerreira que partiu
Por Fernando
Antonio Bezerra*
A
Governadora Wilma partiu para o horizonte que a fé nos faz enxergar. Apesar de
sofrer de perversa enfermidade, havia fundada esperança de que a vida terrena
de Wilma Maria de Faria fosse mais adiante... Ela resistiu com o brilho das
forças que a moveram durante toda a vida, mas, infelizmente, o suspiro
derradeiro aconteceu no último dia 15 de junho e causou, merecidamente, o
lamento de muitos.
A história
dela, mais ou menos, a maioria conhece. Nasceu em Mossoró, cresceu em Caicó,
alicerçou sua liderança política em Natal. Wilma Maria de Faria nasceu do
enlace de Morton Mariz de Faria com Francisca Sales Paraguai Faria (Dona Saly)
no dia 17 de fevereiro de 1945. Dr. Morton, o pai, era seridoense de Serra
Negra do Norte, sobrinho de Juvenal Lamartine de Faria e Dinarte de Medeiros
Mariz, dois grandes líderes potiguares que chegaram ao cargo de Governador do
Estado em épocas distintas.
Ainda jovem
casou com o médico Lavoisier Maia Sobrinho que, anos depois, fez vitoriosa carreira
política exercendo cargos de Governador do Estado, Senador da República,
Deputado Federal e, por fim, Deputado Estadual. É o pai dos filhos que Wilma
gerou: Ana, Lauro, Márcia e Cíntia. Mesmo diante de intensa atividade política
e, depois do início da década de 90, separados, o casal - Lavoisier e Wilma –
conseguiu manter presença muito ativa e amorosa na vida dos filhos e netos,
fato conhecido por todos que conhecem a família.
Na década de
70, mesmo casada com um médico e, ainda, em uma época em que as mulheres não
eram tão cobradas em relação a vida profissional, Wilma de Faria não se
acomodou. Concluiu graduação em Letras, fez especialização, tornou-se
professora da UFRN. Logo em seguida, com o marido no exercício do cargo de
Governadora, novamente ousou, tendo protagonismo mais destacado na área de
assistência social, tanto é que se tornou naturalmente o nome para assumir, no
governo seguinte, liderado naquela época por José Agripino Maia, a Secretaria
do Trabalho e Bem-Estar Social (STBS).
Credenciada
por uma atuação direta com a população e já sendo percebida pelo carisma que
lhe era próprio, Dona Wilma Maia, como assim por muito anos foi chamada, se
tornou candidata a Prefeita de Natal, no já distante ano de 1985.
Eleitoralmente não obteve sucesso, mas politicamente saiu fortalecida. Prova
disso é que no ano seguinte, 1986, foi a mais votada Deputada Federal do Rio
Grande do Norte e, no mandato, uma das mais atuantes da Câmara dos Deputados,
inclusive, na Assembleia Constituinte.
Em 1988
voltou a disputar – e ganhou - a Prefeitura de Natal. A partir daí consolidou
sua liderança na Capital de todos os potiguares vencendo, ela própria, as
eleições municipais de 1996 e 2000 como Prefeita; 2012, Vice-Prefeita e 2016,
Vereadora. Conhecia Natal como poucos, especialmente, os bairros e as pessoas
mais simples com as quais gostava de conviver.
Em 1994
apresentou-se como candidata a Governadora. Era, apesar de sua conhecida
ousadia, um projeto muito difícil para a época. José Torres Filho (Binha),
nosso conterrâneo caicoense, foi o candidato a Vice-Governador. Não obteve
êxito, mas a luta continuou com um olhar para Natal, onde logo voltou a
Prefeitura (1996), e outro para o Rio Grande do Norte que, em 2002, a elegeu
Governadora, aliás, a primeira mulher a chegar ao cargo máximo do Executivo
potiguar. Em 2006 foi reeleita, vencendo a disputa contra Garibaldi Filho,
principal concorrente à época.
A eleição de
2002 merece capítulo especial. Novamente, Wilma de Faria foi ousada. Renunciou
à Prefeitura de Natal, reuniu um grupo pequeno, conseguiu reunir o segmento
evangélico na indicação de Antonio Jácome para Vice-Governador, enfim, foi,
pouco a pouco, demonstrando a viabilidade de sua proposta e vitória. Conseguiu
chegar no
segundo turno, juntou mais lideranças e grupos, envolveu a população. Venceu a
eleição com folgada maioria.
No início do
Governo, diante do desafio da governabilidade presente no regime
presidencialista brasileiro, precisou fazer alianças para a sustentação
política, fato que inibiu algumas das mudanças políticas que desejava imprimir,
ainda assim, conseguiu lançar candidaturas próprias do PSB, seu partido, em
diversos Municípios, inclusive, com lideranças que a apoiaram no primeiro turno
de 2002, os primeiros que acreditaram na perspectiva de sua vitória.
Como Governo
de realizações, poucos se comparam aos resultados obtidos pela gestão sob a
liderança de Wilma de Faria! Com grandes projetos e relevantes programas,
notadamente, na área social, o Governo, sob os cuidados dela, chegou a todos os
municípios potiguares em diferentes áreas. No Seridó, em especial, muito foi
feito, em todas as cidades. A Governadora Wilma tinha um coração seridoense
calçado em suas lembranças da infância e adolescência em Caicó e Serra Negra do
Norte. Gostava muito das coisas de nossas tradições, nutrindo particular
admiração pelo artesanato e pela gastronomia. Não faltou à sua terra quando foi
Governadora!
Wilma de
Faria era idealista, trabalhadora, comprometida com o interesse público,
inquieta para fazer mais e com melhor velocidade. Sabia ir ao encontro do povo
e o fazia com uma naturalidade própria dos grandes líderes. Tinha consciência
também do protagonismo histórico que exercia. Em 2010, por exemplo, conhecia as
dificuldades que encontraria na disputa para o Senado Federal, mas desejava
propor o debate, ao mesmo tempo em que não poderia deixar o seu grupo sem uma
opção, mesmo com o seu pessoal sacrifício. Era, de fato, guerreira. Não temia a
luta e a garra de sua ousadia fará muita falta a vida política do Rio Grande do
Norte.
Fui auxiliar
de seu Governo e, nos anos seguintes, um modesto colaborador de seu projeto
político em um ambiente de recíproca amizade com ela, seu esposo, José
Maurício, seus assessores mais próximos e familiares. Indiscutivelmente um
privilégio profissional e pessoal, tanto pelo aprendizado, quanto pela
oportunidade de participar de realizações que estão presentes na vida de milhares
de pessoas.
Enfim, sua
partida foi muito sentida... Parecia não ser verdadeira a imagem de seu velório
na Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em Natal. Muitos menos da
caminhada final até o túmulo no Cemitério Morada da Paz. Em todos os momentos,
o conforto aos familiares pelos incontáveis testemunhos de estima e respeito.
Soluços e lágrimas de pessoas próximas e distantes, unidas pelo mesmo
sentimento de gratidão à guerreira do povo.
*Artigo de autoria de Fernando Antonio Bezerra, publicado na página Novo Bar de Ferreirinha
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