Por Emanoel
Barreto*
A cuíca
zurra sua cantiga bárbara, lúbrica, luxuriosa - e geme; o cavaco solta acordes
finíssimos, agudos como ponta de florete; surdos marcam profundos o ritmo que
alucina; tamborins são como sopranos em ária sensual; caixas atiram-se para a frente
cantando a liturgia do prazer.
Mulatas
flertam com o desejo agarrado às suas ancas. É o Brasil em festa. É o carnaval
como fascinante sagração do desvario. E os pandeiros entoam seu ritmo
feiticeiro.
Chegou a
festa. Somos a civilização de Baco, somos o povo feliz. Feliz por quatro dias,
feliz pela ilusão criada de sermos felizes por exatamente quatro dias.
Samba, suor
e cerveja são nossos deuses lascivos. Com eles iremos até o fim. Até que o
último arquejo licencioso se cale, até que a última gota esgote o jato
libertino vamos ser felizes, vamos ser felizes por quatro dias.
Viva o
Brasil. Viva essa alegria louca que confunde mas aplaca; que excita mas acalma,
palpitando no coração por mais loucura. Viva o Brasil. Viva o carnaval. Viva a
mulata que esconde nos quadris a imoderação e todas as suas delícias.
*Publicação do autor em sua página Coisas de jornal.
Foto da Internet
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