A GAROTA DE MEUS OLHOS...
Por Bené
Chaves*
Desde o
momento que conheci aquela menina uma enorme euforia tomou conta de mim e meu
corpo tremia quando olhava sua cor trigueira de olhos castanhos claros a
acariciar-me, às vezes, somente as mãos, outras vezes o meu imberbe rosto. E
meditava sobre um possível e talvez sério relacionamento.
(O homem, de
um modo geral, pensa e tenta se firmar como uma pessoa capaz de obstáculos
talvez até inacreditáveis. A mulher, por sua vez, sensível e maternal quase
sempre, muito embora, com raras exceções, um pouco difícil de entender, procura
conciliar supostas irritações e, então, assenta-se como uma companheira
leal.Mas, em outras ocasiões, dá-se justamente o contrário. E a recíproca fica
num vai-e-vem travesso, a chamada infindável e insondável intermitência de
valores. Por isso mesmo seria imprevisível qualquer união ou desunião de
pensamentos).
Eu e ela
éramos ainda jovens, não tínhamos noção alguma de um perigo maior que pudesse
se avizinhar. Portanto, a insistente pergunta: poderíamos enfrentar situações
vexatórias e contraditórias contanto que permanecêssemos juntos um ao outro?
Não sabia até onde iria o presente devaneio, mas o meu intento era tão somente
viver aquela fantasia, fosse ela duradoura ou não. Coisa de menino besta e
ansioso para arrebatar uma libido que florescia na viçosa idade. E acho que a
alternativa também era verdadeira, embora castrada pelas normas repressoras do
sexo feminino.
A vida era
assim mesmo... Que ninguém duvidasse dela, pois a própria entortava e retorcia
do jeito que quisesse, se fazendo senhora de suas determinações e
deteriorações.
Ela antevia
as agilidades e vícios, contudo também as covardias de uma existência. Dizia-se
que vivia em constante mistura consigo. E, claro, com os outros. Era uma vida
obscura, não sei, contudo, se detestada. Em presença, no entanto, de tantas
indefinições, todos ficavam indignados com a mesma, vendo-a passar, aleatória,
diante de circunstâncias e circunvizinhanças.
Seria uma
natureza determinante ou certa força energética, absoluta? Pois sim!, pois não!
Sim! Não! Pois! Senão?
Eu não me
incomodava com deliberações existentes e estabelecidas sejam lá por quem. Minha
idade não permitia. Queria apenas levar adiante aquela paixão adolescentemente
buliçosa.
E que fosse
pro diabo qualquer resolução em contrário! Seguia uma conceituosa e ambígua
definição de Painhô: ‘O essencial da vida existia pra se comer (literalmente ou
não) mesmo, não via necessidade de me necessitar’.
*Com postna página do Jornal Zona Sul
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