Dos líderes da fé
Por Fernando
Antonio Bezerra*
Foto de acervo/divulgação
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O Seridó que
a gente ama deve muito a Igreja Católica pelas iniciativas, obras e
personalidades que nos ajudaram a chegar até aqui. Dos líderes que nos
conduziram, os Bispos Diocesanos se destacaram, cada um a seu modo, com marcas
espalhadas em nossa história. Dos sete Bispos de Caicó, o único a nascer no
chão do Seridó foi Dom José Adelino Dantas, apesar de outros terem laços
familiares na região.
José Adelino
Dantas, segundo anotações espalhadas em pesquisas de Aluísio Azevedo, Luiz GM
Bezerra e Monsenhor Severino Bezerra, nasceu no dia 17 de março de 1910, na
povoação de “Luíza”, também conhecida por “Saco de Luíza”, Flores, hoje,
Município de São Vicente-RN. Era filho de Antonio Adelino Dantas e Jovelina de
Oliveira Dantas e neto de José Adelino Neto e Ana Adelino de Azevedo Dantas,
pelo lado do pai, e de Tomaz Henrique de Azevedo Maia e Tomázia Maria de
Azevedo, avós maternos.
Com a
precoce morte do pai, ainda criança, José Adelino Dantas passou a residir em
São Paulo do Potengi-RN. Foi uma decisão da mãe que, mesmo viúva, decidiu
enfrentar a exploração comercial de um modesto hotel naquele Município. Por lá
decidiu ser Padre, alegria para a mãe católica que, muito pobre, contou com o
apoio do então Bispo de Natal, Dom José Pereira Alves, para chegar ao Seminário
no dia 5 de fevereiro de 1925.
Depois de
progredir nos estudos nos Seminários de Natal e de João Pessoa, foi ordenado
sacerdote no dia 18 de novembro de 1934, no Santuário de Nossa Senhora das
Graças e Santa Terezinha em Natal-RN. A primeira Missa foi em Carnaúba dos
Dantas, terra de seu pai, no dia 21 de novembro; em seguida, a segunda em São
Vicente e a terceira em São Paulo do Potengi.
Ainda em
1934 foi designado para Vigário de Santo Antonio do Salto da Onça, tomando
posse no dia 8 de dezembro, dia da festa da padroeira local, mas no início de
1935, no dia 25 de março, já de volta a Natal, assumiu o honroso cargo de
Reitor do Seminário de São Pedro sucedendo seu ex-professor e conterrâneo
seridoense Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel. Passou 17 anos e 6 meses como
Reitor. Mas, também foi professor no Seminário e fora dele. Dominava com
facilidade o latim, italiano, francês e o grego. Exerceu ainda o magistério no
Atheneu Norte-Riograndense; fez conferências memoráveis em instituições e atos
solenes; era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte;
foi eleito, sucedendo ninguém menos que o genial Cônego Luiz Gonzaga do Monte,
e assumiu a cadeira 22 – patrono Cônego Leão Fernandes - da Academia de Letras
no dia 13 de setembro de 1949, saudado por Câmara Cascudo. Além de escritor dos
livros “A Formação do Seminarista”, em 1947; “Homens e Fatos do Seridó Antigo”,
em 1962; e “O Coronel de Milícias Caetano Dantas Correia – Um Inventário
Revelando um Homem”, José Adelino Dantas era pesquisador, ensaísta, poeta,
orador sacro e um dos mais ilustres latinistas do Rio Grande do Norte.
Vaga a
Diocese de Caicó pela transferência de Dom José de Medeiros Delgado para São
Luiz-MA, José Adelino Dantas, então Monsenhor, foi nomeado pelo Papa Pio XII,
Bispo Diocesano em junho de 1952. A Sagração Episcopal ocorreu em 14 de
setembro de 1952 em solenidade presidida por Dom Marcolino Dantas e a posse em
Caicó no dia 20 do mesmo mês e ano. Dom José Adelino Dantas foi o primeiro
Bispo do Rio Grande do Norte sagrado em Natal.
Passou pouco
tempo em Caicó. Em 1957 foi convocado para uma missão difícil na Diocese de
Garanhuns em Pernambuco. O bispo anterior havia sido assassinado. Foi e
enfrentou com altivez o desafio. Dez anos depois foi novamente transferido,
desta vez para Rui Barbosa, na Bahia. Em 1975, depois da renúncia ao governo
episcopal autorizada pelo Papa Paulo VI, voltou ao Rio Grande do Norte,
passando a residir na cidade de Carnaúba dos Dantas-RN e a exercer o magistério
no Campus da UFRN em Caicó-RN.
Os últimos
anos de sua vida residiu na Casa Paroquial, da Capela de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, ao pé do Monte do Galo, onde ajudou a divulgar a grande obra
dos mestres Tonheca e Felinto Dantas, este último seu amigo pessoal, com quem
conversava com frequência sobre música, sertão, genealogia e história.
Com saúde
fragilizada, Dom Adelino, entre idas e vindas a Natal para tratamento médico,
foi acometido de uma trombose cerebral no dia 26 de fevereiro de 1983. Estava
em Carnaúba dos Dantas. Logo foi transferido para Natal, mas, no dia 24 de
março, foi levado para o horizonte que a fé nos faz enxergar. Foi deixando
lições de coragem, caridade, reverência às coisas sagradas, amor à terra e a
tradição seridoense. É líder que não pode ser esquecido. Merece ser lembrado e
copiado.
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