- Agora, até a imaginação
parece haver desertado da área das secas. O Nordeste não pede
misericórdia. Cobra o resgate do que lhe
devem há 300 anos. Essa afirmação reflete a
síntese de pronunciamento feito por Aluízio Alves, como deputado federal, no
dia 25 de abril de 1953, no plenário da Câmara, ainda na antiga capital do País
– o Rio de Janeiro.
O RN vinha de dois anos
seguidos de seca e vivia sob a perspectiva de mais uma em 1953. Realista, ele proclamava,
já naquela época, no discurso intitulado “Novo caminho” e denunciando os
repetidos “programas emergenciais”:
-
A crise do Nordeste precede a própria seca. Digo mais: a esta resistiriam mais
uma vez os nordestinos.
-
Resistir, porém, com as nossas poucas forças, à conjuntura econômica,
resultante de fatores internacional e nacional, para nós é demais. Resistir à
pressão da convivência de uma economia mais forte, baseada na próspera
organização rural ou industrial, servida de crédito fácil e abundante, é
escarnecer da nossa penúria.
Segue-se
o mais completo relato sobre a realidade nordestina até aquele momento para
completar:
-
Não se confunda a nossa humildade com submissão. Não nos apresentamos à Nação
de joelhos, como quem pede misericórdia. Apresentamo-nos, sim, como credores
que esperam, há 300 anos, o resgate de sua dívida.
-
Sim, senhor presidente: O Nordeste é credor da Nação. Somos uma parte dela, a
ela temos dado tudo, todas as glórias de nossa história, todas as amarguras de
nossos sofrimentos, todas as esperanças do nosso futuro.
E
enumera episódio por episódio:
-
Na hora da invasão holandesa, demos-lhe o nosso sangue para manter íntegra esta
pátria. Foi o nosso sangue dado muitas vezes, todas as vezes em que, no
Paraguai ou na Itália, estavam em jogo os nossos deveres com a soberania e a
liberdade humana.
-
Nas horas turvas da última guerra, demos-lhe bases aéreas e navais, demos-lhe
vidas soçobradas nos conveses e porões de navios; nas noites silenciosas, demos
a insônia de nossa vigilância pela supremacia dos ideais democráticos. Na
independência e na República, marcamos bem alto o nosso lugar.
-
Organizamos, sangrando as próprias mãos, uma economia que se tornou útil à vida
do País, fornecendo-lhe divisas, nem sempre restituídas de acordo com as nossas
necessidades.
-
Demos-lhe, sobretudo, um exemplo de convivência fraterna, não atropelando o
desenvolvimento de outras regiões, enquanto a nossa se afundava, sem destino e
sem perspectivas.
-
Agora, no último limite de nossas privações, que a Nação nos restitua – a cada
um e a todos os nordestinos, pelo trabalho e pela solidariedade, a fraternidade
esquecida.
Fonte: "Sem ódio e
sem medo" - Editora Nosso Tempo - 1969.
- Com post na página do jornalista Paulo Tarcísio Cavalcanti.
- Com post na página do jornalista Paulo Tarcísio Cavalcanti.
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