O Arcebispo
Metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, publicou, neste domingo, 5 de
abril, a mensagem anual de páscoa. Este ano, Dom Jaime ressalta a
co-responsabilidade de todos os membros da Arquidiocese de Natal – padres,
diáconos, religiosos e religiosas e fiéis leigos – para a promoção da campanha
de assinaturas para o projeto de Lei de Iniciativa Popular elaborado pela
coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas.
Confira o texto, abaixo:
MENSAGEM DE PÁSCOA
AOS PRESBÍTEROS, AOS DIÁCONOS,
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS
DA ARQUIDIOCESE DE NATAL
POR OCASIÃO DA PÁSCOA DO SENHOR DE 2015
Saudações vibrantes! Cristo Ressuscitou!
É ele a razão de nossa alegria! Aleluia!
No momento em que celebramos o mistério da Páscoa de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo, verdade central e princípio motivador da fé
cristã, somos instados a buscar à concretude da graça pascal com um
olhar de co-responsabilidade no exercício da cidadania. Como nos diz o
beato Paulo VI: “A ação política dos cristãos é forma exímia e eminente
de caridade”. Nesse espírito de caridade, convidamos todo o
Povo de Deus, e cada fiel batizado em Jesus Cristo, homens e mulheres de
boa vontade, para nos unirmos em favor do Brasil e do Povo brasileiro.
Todos sabemos dos graves problemas que se abateram sobre o Estado
Brasileiro, diante da revelação dos graves casos de corrupção, operados
por agentes políticos com a participação de setores empresariais, que,
juntos, lapidaram o patrimônio público construído pelo trabalho suado de
homens e mulheres de bem que honram a pátria brasileira.
A crise estabelecida – e alimentada pelos inimigos da democracia –
traz à luz as mazelas históricas ainda presentes nas práticas de alguns
que usurpam do poder político para se locupletarem do bem comum.
A conduta e atitudes de alguns, eivadas e alimentadas por práticas de
corrupção, principalmente para macular o processo eleitoral brasileiro,
há tempo adornam o noticiário cotidiano. Entretanto, sempre foram
negligenciadas ou relativizadas pela opinião pública. Enquanto isso, o
Estado brasileiro ainda permanece omisso na resolução dos graves
problemas estruturais da sociedade, particularmente aqueles referentes
às áreas de saúde, de educação, de acesso ao solo urbano e à reforma
agrária, à distribuição de renda e à segurança dos cidadãos. Omissão
agravada pelo despreparo e falta de compromisso de parte da classe
política, que preferem à violência, usando do aparelhamento estatal para
eliminar aqueles que por ausência dessas mesmas políticas públicas, são
jogados no crime organizado, e, agora, com a possibilidade de
ingressarem até mais cedo pela redução da maioridade penal.
Caríssimos irmãos e irmãs!
Diante de tantos desafios, o Povo Cristão não pode ficar e permanecer
inerte. A multiplicação e complexidade das relações sociais no tempo
presente torna o papel do Estado mais complexo. Exige-se do Estado que
penetre mais profundamente em toda a vida social, o que requer tanto
mais discernimento dos cristãos e lhes coloca a obrigação de se
informarem melhor.
Uma exigência que a fé coloca para o cristão engajado na política é a
necessidade de agir. Análises, denúncias e estudo das soluções não
bastam. É preciso orientar esses elementos para a tomada de decisões e
para o empenho na ação.
Não basta recordar os princípios, afirmar as intenções, fazer notar
as injustiças gritantes e proferir denúncias proféticas; essas palavras
ficarão sem efeito real, se elas não forem acompanhadas, por cada um em
particular, de uma tomada de consciência mais viva da sua
responsabilidade e de uma ação efetiva. É demasiadamente fácil jogar
sobre os outros a responsabilidade das injustiças se não se dá ao mesmo
tempo conta de como se tem parte nela e de como a conversão pessoal é
necessária, mais do que qualquer outra coisa (Cf. OA, 48). Como Igreja
devemos cumprir o mandato bíblico a partir do que nos apresenta o
profetas Isaias “O espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me
ungiu, me enviou para curar os corações feridos, para proclamar a
libertação, para anunciar a graça, para consolar!” (cf. Is. 61,1), desta
forma, compreendemos que o cristão, assumindo sua dimensão profética do
batismo é um mensageiro de esperança! Um arquiteto da justiça! Um
construtor permanente da paz!
Na vivência de construtores permanentes da paz, percebendo a atual
crise que coloca em risco a Democracia Brasileira, esta que foi
conquistada com o envolvimento das classes políticas e de todo o povo, e
que custou muito sacrifício e sofrimento, não podemos ficar apáticos
diante da exigência desse momento histórico. A ocasião exige a
participação de todos os que lutaram, acreditam e trabalham para
fortalecer e consolidar os valores democráticos no cotidiano de nossas
relações como cidadãos. É hora da cidadania! E cidadania ativa!
É no exercício da cidadania ativa que está a essência da Democracia. A
cidadania ativa e emancipada se conquista no cotidiano. A cidadania
cotidiana é o caminho adequado para fazer frente às mazelas políticas,
sociais e econômicas que nos perseguem, que se traduzem por atos de
violência, às vezes praticados pelo próprio Estado contra os cidadãos;
posturas discriminatórias e preconceituosas; percepção equivocada de
direitos, e materializados como privilégios para alguns; clientelismo;
corporativismo, autoritarismo; corrupção, entre outros.
A prática cidadã é uma das responsáveis pela construção de espaços
públicos, onde todos recebam do Estado a garantia do seus direitos
fundamentais – moradia, trabalho, saúde e educação. Não há cidadania
quando não se garante a construção democrática de uma ordem pública para
o exercício pleno da representação plural dos interesses dos cidadãos
mediante um amplo processo de interlocução e negociação.
Então, diante da inquestionável crise por que passam, no Brasil, as
instituições da Democracia Representativa, especialmente o processo
eleitoral, decorrente este de persistentes vícios e distorções, tem
produzido efeitos gravemente danosos ao próprio sistema representativo, à
legitimidade dos pleitos e à credibilidade dos mandatários eleitos para
exercer a soberania popular.
O momento exigi a participação de cada cidadão para cobrar das Casas
do Congresso Nacional uma Reforma Política Democrática que estabeleça
normas e procedimentos capazes de assegurar, de forma efetiva e sem
influências indevidas, a liberdade das decisões do eleitor.
Cabe a cada um de nós manter-se vigilante e atento aos acontecimentos
políticos atuais para que não ocorra nenhum retrocesso em nossa
Democracia, tão arduamente conquistada.
Para tanto, é necessário que todos os cidadãos colaborem no esforço
comum de enfrentar os desafios, que só pode obter resultados válidos se
forem respeitados os cânones constitucionais, sem que a Nação corra o
risco de interromper a normalidade da vida democrática.
Participemos todos, então, da campanha de assinaturas de adesão à
proposição de uma Reforma Política Democrática, realizada por uma
constituinte exclusiva e soberana, com a responsabilidade de mudar o
sistema político para evitar que a esfera privada continue dominando e
sugando a espera pública, além de promover as reformas urgentes e
necessárias que garantam a igualdade de direitos econômicos, sociais,
ambientais, culturais e civis para todos os brasileiros.
Não faz sentido realizar uma reforma política feita por um Congresso que é parte do problema, e não da solução.
Por fim, lembremo-nos que o cristão é movido e animado por uma
profunda esperança, fundada na certeza de que o Senhor Ressuscitado
continua no meio de nós e acompanha nossas ações, operando por meio de
nós. O cristão sabe que não está sozinho. Deus opera em outras pessoas e
grupos, inspirando-lhes ações a favor da justiça e da paz. Nossa ação
se junta à de muitas outras pessoas, instituições, até formar uma grande
corrente, capaz de mudar as mentes e estruturas (Cf. Paulo VI, AO, 48).
Invocando o olhar materno da Virgem Mãe e Senhora Aparecida,
supliquemos ao Bom Deus a esperança de podermos juntos, como cidadãos e
como cristãos, construirmos uma pátria mais justa que seja amada e
gentil Mãe de todos os brasileiros.
A minha especial bênção de Páscoa!
Natal-RN, 5 de abril de 2015
Domingo da Ressurreição
Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal
. Cacilda Medeiros – assessoria de comunicação da Arquidiocese de Natal – (84) 3615-2800 / 9968-6507
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