Jornalista ▶ boscoaraujo@assessorn.com
Teria eu talento para a música? Não sei!
Sei que por volta aí de uns oito anos de idade comecei a tocar tamborim. Quer
saber como? Foi nessa época, já morando na rua, para as primeiras lições na
escola de Dona Marizene, passando para a Escola de Aplicação de Caicó, no
Instituto de Educação, que os meninos coleginhas rimavam cantarolando “entra burro e sai ladrão” (Inaugurado em
1960 pelo governador Dinarte Mariz, o prédio ainda cheirava a novo), que me
descobri um percussionista, se bem que nem seria esse o termo certo, pois
menino brincava de puxar carrinho, jogar bola, biloca, pião, pular, rabugem,
barra-bandeira e outro montão de brincadeiras, dependendo do período do ano e
das férias.
O tamborim me apareceu meio por acaso e
mais por curiosidade. Meu Tio Antenor Tavares, um carnavalesco autêntico,
caicoense, antes de migrar para São Paulo, foi criador de blocos e de uma
escola de samba que em companhia de “Chico Pindóba”, Chico Avelino, Miguelzinho
(Miguel Elias Filho), “Arroz” (Hortêncio), Charles Garrido, “Zé da Gata” (José
Benévolo Filho) e de outros rapazes competiam com a rival “Acadêmicos do Samba”,
a escola de samba mais famosa da região, comandada por Manoel de Nenem, sem
dúvida, a maior representatividade foliã seridoense de todos os tempos.
E lá estavam o tamborim e outros
instrumentos, e até restos de fantasias, encostados, sem a alegria de outrora,
num canto de parede da velha oficina de chapéu de couro de meus avós maternos
Severino e Luzia Tavares, da rua Augusto Monteiro, parede e meia com a Bodega
de Zé Teófilo.
Sozinho, me vi no meio da avenida, na
cadência de ritmos e vozes que repetiam aos ouvidos: “Balancei a roseira, balancei a roseira e a rosa caiu, ôu, ôu... Rosa
tem espinhos, Rosa me traiu...”
Por instantes, estava eu com o tamborim
repicando e batucando àquela música que já ouvira no rádio de pilha da sala de
visitas, sintonizado na amplitude modulada da Emissora de Educação Rural de
Caicó. Pura emoção, uma energia contagiante me envolveu ao perceber que sabia
tocar aquele instrumento, tão simples, feito de pedaços de madeira e de couro
cru. Idêntica alegria de quando me vi assoviando pela primeira vez uma melodia.
Não segui ou persegui a aptidão que me
aparecera, precocemente. Fui incompetente de assimilar uma vocação nata. Nos
anos seguintes, já adolescente, por falta de condicionamento para a prática da
educação física, a escola me ausentava das atividades, me dispensando das aulas
e do desfile cívico do 7 de Setembro.
Sozinho, me vi obrigado a buscar algo que
me compensasse àquela ociosidade. Formei um grupo com os amigos, vizinhos de
rua. Cabecinha (William do Hotel Guanabara), meu irmão Gilberto, “Galego”
(Jaciel) e Jurandir (filhos de Maria Cunha), Pedro e Paulo Afonso (filhos de
Manoel Dantas), e da outra rua, meu primo Eugênio, Roberto de Anita e outros
que não me recordo os nomes, seriam os componentes da bandinha de tambores de
lata a tocar nas ruas, todas às noites e por todas as vezes que se aproximavam
os ensaios dos alunos dos colégios para o desfile de aniversário da
Independência do Brasil.
Como algumas escolas possuíam sua própria
banda marcial, criativamente me dirigia ao local de consertos dos instrumentos
e conseguia restos de couro para a nossa bandinha, pois o tarol (não mais o
tamborim), meu instrumento na banda que fazia o ritmo repicando com duas
baquetas e comandava o resto do grupo acompanhado da marcação do bombo, esses
teriam que ser necessariamente de couro. A indústria posteriormente aboliu esse
produto na fabricação, uma medida ecologicamente correta. Completavam os
instrumentos da nossa bandinha, latas e tubos de plásticos (mangueiras) que
substituíam as cornetas.
Hoje, é moda reciclar instrumentos e
incentivar crianças e adolescentes para a prática da música, uma medida
necessária assim como a prática desportiva, de inclusão social.
Não tenho e não toco mais o tamborim.
Tenho, e toco, as lembranças. Tentando acalentar o sonho de um dia me ver na
Sapucaí, no meio de uma bateria. Nem que seja uma bateria de alegria em plena
avenida da ilusão. Taracutreco, tereco-teco,
tantan, paracumprum, turu-tuntum,
tam, turu-tuntum.
Olha aí, gente!
[Foto da época, de acervo familiar]
JBAnota – Esta foto, retirada da página do Facebook de minha prima Elinete, foi
mais uma oportunidade para a republicação deste artigo, retratando, exatamente,
a época do bloco carnavalesco de meu Tio Antenor, que neste domingo de Carnaval
rendo homenagem a ele, hoje morando em Natal, e também ao maior folião
caicoense, Manoel de Neném (in memoriam), sem esquecer Genival das “Malas”
(também em memória) que por muitos anos conduziu o “Bloco do Lixo” pelas ruas
de Caicó, inclusive era quem saía com o Zé Pereira na madrugada do sábado de Carnaval.
Seu Ala Ursa foi inspiração para o Magão, que deu continuidade com o Bloco saindo
do Poço de Sant’Ana e hoje esse sucesso extraordinário do grande Carnaval de
Caicó dos tempos atuais.
©2014
www.AssessoRN.com | Jornalista
Bosco Araújo
Parabéns, primo!!!! Muito legal o que você escreveu.
ResponderExcluirValeu, Elinete, e a postagem da foto foi essencial para o momento. Grande abraço!
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