Por
João Bosco de Araújo
Pouquíssimo tempo atrás
disse da tristeza de ver as portas de uma escola ser fechadas. Foi na notícia
da última edição impressa do Diário de Natal, em outubro de 2012. Nesse mesmo
tempo, no mês seguinte, foi desativado, em Natal, o colégio comandado por religiosas
católicas, o Imaculada Conceição.
Como bem disse, uma notícia
nunca boa de se dizer: do fechamento de um jornal, de uma escola, de um
hospital, seja o que for, fechar as portas é um ato desolador, um retrocesso,
uma queda, um desserviço. Ainda mais quando se trata de um estabelecimento de
promoção e de desenvolvimento, de crescimento de uma comunidade, de uma região.
Todos de garantia de cidadania, preceitos fundamentais de convivência,
civilidade.
E a triste notícia se
repete, desta vez em Caicó, e mais triste por se tratar de três escolas
públicas. O ano letivo escolar foi iniciado sem contar com os três estabelecimentos;
as escolas estaduais Joaquim Apolinar, no bairro Paraíba, Manoel Fernandes
Jorge, na Barra Nova, e Professora Iracema Trindade, no bairro João XXIII. Segundo
o noticiário local, o fechamento fora justificado por critérios técnicos, por
falta de alunos.
Dificilmente, para que
possamos entender procedimentos técnicos, quando se fecham oportunidades de educação
a adolescentes e jovens, essencialmente em locais vulneráveis a delinquência e de
carência sócio-econômica.
Diante dos fatos, e em
particular, minha maior tristeza tem uma relação histórica, pelo fechamento da
Escola Estadual Joaquim Apolinar. Foi nela que cursei o ensino fundamental, na
época o ginasial, concluído na terceira turma, em 1973. A primeira
turma do GEJA - Ginásio Estadual Joaquim Apolinar, foi em 1971, iniciada em
1968, ano da inauguração do estabelecimento, no Governo do Monsenhor Walfredo
Gurgel, sendo a segunda escola pública de ensino ginasial na cidade, atendendo adolescentes
e jovens de toda a região Seridó e até de cidades limites da Paraíba.
Desde a inauguração, até
o fechamento, fora quase meio século de atividade educacional, cultural, pedagógica. O primeiro diretor, o professor Laércio Segundo de Oliveira; a primeira
cantina, de Dona Delzira; o primeiro zelador, Francisco Pereira - “Chico
Cachacinha”; o primeiro fiscal de corredor, “Bancário”; os primeiros
professores, que foram tantos; e os primeiros colegas e alunos, muito mais ainda.
Nesse ínterim, também tive
o primeiro desfile cívico de 7 de Setembro, que foi o único, por ter sido dispensado,
posteriormente. Nessa ocasião, um carinho especial pelo então diretor, o
segundo da escola, o professor Joaquim Soares Carneiro, me garantindo desfilar
como o piloto da ala de ciclistas, no lugar de outro aluno, dono de uma bicicleta
do ano. Assim mesmo não quis, porém nunca me esqueci de sua inesperada atitude lisonjeada.
Quantos momentos vividos
em sala de aula, tantas histórias e exemplos que marcaram uma vida. Sentimentos
e aprendizados marcharam juntos, aluno-professor. Muitos deles!. Aqui, uma do
professor de Matemática, Otoni Cavalcanti. Nas provas, sempre deixava uma
citação filosófica no final das questões: “Matemática não é difícil”. Aproveitei
a frase para dar continuidade ao tema, escrevendo a seguir: “Difícil é gostar
de matemática”. Elogios ao me entregar o exame.
Nesse sábado, na feira
de Caicó, ao lado da supervisora pedagógica Marlene Azevedo que trabalhou vinte
anos na EEJA, me encontro com o professor Manoel Nunes Filho - “Manu”, já aposentado,
que nos relatou ter ficado uma noite sem dormir pelo fato ocorrido e que
lamentava não ter surgido sequer uma voz para evitar o fechamento da escola.
Em 2011, nossa turma
concluinte de 1973 organizou um reencontro dos ex-alunos durante a Festa de
Sant’Ana. Meses antes, o grupo se reuniu também em Natal para detalhar o
encontro em Caicó. Trabalhando fora, não pude participar, mas outros ex-colegas
marcaram presenças, como Nelsira Queiroz, Francisco Brito - "Galego", Osni
Damásio, Diolinda, Hudson Cardoso, Vicente Zacarias, Maria Nazareth, Jailson
Azevedo, Fátima Mota, Paulo Roberto e outros dez ex-alunos, ou mais.
Até agora, não se pronunciaram onde
ficarão os arquivos das escolhas fechadas, uma história de décadas à mercê de
procedimentos técnicos, sem critérios, nem beneméritos.
São escolas fechadas,
fechando as oportunidades e futuros de muitas gerações!
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