Jarbas Martins*
Foto: página sebo vermelho
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Não poderia deixar de
falar de um velho amigo, MOACY CIRNE, que conheci aos dezessete anos, vindo do
Sertão de Caicó para morar em Natal. Da mesma idade, construímos nossa amizade,
respeitando nossas diferenças e acentuando nossas semelhanças. Ele se dizendo
ateu e eu, cristão. Ambos procurando um sentido para vida. Ele lendo Sartre e
eu, o existencialismo católico. Até que entrou o diálogo entre marxistas e
cristãos, João XXIII e Kruschev se entendendo.
Ingressei na Ação
Popular e ele, já no Rio de Janeiro, ingressou no Partido Operário Comunista,
uma dissidência trotskista. Mas antes da angústia existencial, bem antes de
Marx, Gramsci, O Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung, a guerrilha de Che Guevara,
havia o amor pela arte. A literatura, e a paixão pelas mulheres que tratávamos
como damas, nos cabarés da Ribeira, zona portuária.
O que admirava neste
amigo era a paixão. Quadrinhos (o primeiro a publicar no Brasil livro sobre o
tema), a Teoria Literária, o Cinema, o Futebol (torcedor do Fluminense), a
Vida. Detestava os hábitos burgueses, os signos do capitalismo, consumismo, a
indústria cinematográfica hollywoodiana, Coca Cola. Os shoppings. Detestava o academicismo.
Largou o curso de
Direito, na Faculdade da UFRN, alegando que pouco tinha que aprender ali. No
Rio ingressou na Revista Vozes, onde foi editor e publicou livros que começaram
ter receptividade tanto no meio acadêmico e fora dele.
Ficou conhecido por
integrar o movimento vanguardístico do Poema Processo, ao lado de Wlademir
Dias-Pino, Álvaro de Sá e outros.
Foi um dos fundadores do
PT, nunca renegando seu ideário. Mesmo quando abandonou a militância política.
Na ultima conversa que tivemos, disse estar satisfeito com os rumos que o seu
partido tomava. E mais: falou que José Dirceu fazia parte da história do PT e
do país. (Concordei, dizendo-lhe que em minha carreira jurídica tive muitas
decepções).
Meu amigo Moacy nunca se
graduou em Universidade nenhuma, mas foi convidado para ensinar na Universidade
Federal Fluminense em Niterói. Contentou-se com o título de "notório
saber" que lhe foi outorgado pela Universidade onde lecionava e onde
chegou a ser Chefe do Departamento de Comunicação Social.
Nunca se afastou do Rio
Grande do Norte, principalmente da Região do Seridó. A paixão foi o seu método,
para chegar aonde queria: o Comunismo ou à Terra de São Saruê, a utópica pátria
dos sertanejos segundo os cordéis de feira dos pobres camponeses.
Tinha costumes simples.
Com sua barba podia ser confundido com Marx, um profeta sertanejo de Caicó, ou
de Canudos. Havia, claro, os reacionários e preconceituosos que o detestavam. Eu,
parodiando Lafargue, chamava-o de Jeová Barbudo de Caicó.
Rebarbativo, não.
PASSIONAL!!!
*Com post do Sebo Vermelho
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