Por Walter Medeiros*
[waltermedeiros@supercabo.com.br]
Uma foto do amigo
repórter João Maria Alves mostra uma escada da entrada de um prédio de estilo
colonial e me faz refletir sobre aquele trecho, tão importante e tão simbólico
da vida. A escada, com seus batentes,
que nos faz subir e descer, entrar e sair dos mais variados ambientes. Além de
tudo que pode acontecer naquele lugar onde hoje, por questão de segurança, os
arquitetos procuram fazer com paredes transparentes, grandes aberturas, janelas
e todo tipo de ângulo de visão. Ao mesmo tempo, a amiga Tatiana Gonçalves, do
Porto – Portugal, envia foto de uma escada cujos batentes foram transformados
em gavetas, utilizando melhor o espaço para guardar de tudo.
A primeira lembrança de escada me vem de quando
criança atravessava uma bela alameda com eucaliptos e subia para a bela igreja
de Mata Grande, situada num local bem elevado. Era um percurso inesquecível,
pelo perfume e beleza do local. Em seguida, na mudança para o Rio Grande do
Norte, pegamos um trem em Arco-Verde, Pernambuco, direto para Natal. Para não
perder o trem, minha mãe me puxou pela mão e ao subir a escada do vagão
escorreguei e minha tíbia bateu forte na quina do batente de ferro. Até hoje
sinto aquela dor e sei exatamente o local da pancada.
Já morando em Natal
sentia-me realizado ao conversar com os amigos na escada da Igreja de São Pedro
e onde aos domingos chegava o mais cedo possível para comprar “O Poti” e a
“Tribuna do Norte” para o meu irmão Wellington Medeiros. Mesma época em que
conheci a bela escada que dava acesso ao primeiro andar da Escola Industrial de
Natal, onde prestei exame para o Ginásio Industrial em 1966. O maior detalhe é
que ao término da escada existe uma porta corrediça que depois de fechada deixa
isolado quem subiu e impede a entrada de quem chegou fora de hora.
Em seguida veio a Escola
Técnica Federal do Rio Grande do Norte, com aquelas escadas lá do portão
lateral, por onde os estudantes entravam como que a cada dia subindo na vida.
Depois a escada do Padre Miguelinho, que nos levava ao primeiro andar do
Científico de Engenharia, após passar pela inspetora Dona Antônia. A partir de
1974, vieram as escadarias do Campus da UFRN, ambiente de tantos sonhos, de
tantas lutas e conquistas.
Cada escada tem sua
missão, como aquela escada do Arpege, de madeira e corrimão; a escada da
Brodway, boate que existiu na rua Felipe Camarão e onde um dia errei o batente
no começo da descida e terminei lá embaixo mas sem arranhões, pois era acarpetada.
Da mesma forma que errei também um batente na escada interna do Incra e foi um
Deus nos acuda. Graça me ajudou a levantar.
Certa vez Graça e eu
tivemos de esperar horas numa escada por uma empregada que tinha a chave do
apartamento onde ficamos em Brasília. Mesma época em que o chique em Natal era
ir á Cidade Alta conhecer a primeira escada rolante, inaugurada nas Lojas
Americanas (Ou Lobrás? - indaga a amiga Lucília Lira). E depois subíamos por
anos seguidos as tradicionais escadas da Companhia Editora do Rio Grande do
Norte – Cern, Imprensa Oficial do Estado, onde trabalhamos desde 1979.
As escadas marcam a
gente pelas suas características e momentos que nelas passamos. Como as visitas
ao Forte dos Reis Magos, passando naquela escada sem corrimão, grande aflição
para quem tem aerofobia. E no Farol de Mãe Luiza, com aquele formato redondo no
qual se dá inúmeras voltas para poder chegar ao parapeito e apreciar as belezas
do mar potiguar.
Algumas escadas levam a
outros tipos de lembranças, como aquela do Hospital São Lucas, que se sobe para
visitar parentes ou amigos em tratamento, no simbolismo do patrono da medicina.
As escadas do Palácio Felipe Camarão, hoje tão achincalhado pelas ocupações
desnorteadas. Além do que nas redações sempre chamavam atenção ao tempo em que
a sede do Governo do Estado era na Praça 7 de Setembro e todos ficavam atentos
quando alguém subia as escadas do Palácio Potengi. Dependendo de quem subisse,
algo importante poderia acontecer para o Estado e seu povo.
Há poucos anos escrevi
crônica relatando que uma amiga nossa de origem humilde chorou ao subir as
escadas da Universidade de Coimbra e ser recebida como Doutora. A curiosidade e
oportunidade me fizeram passar em Coimbra e contemplar aquela bela escadaria na
viagem que fizemos este ano, na qual passamos dias em Portugal. Também na
Europa uma das lembranças mais fortes é da escada da Catedral de Brugges, na
Bélgica, onde se sobe o equivalente a um prédio de dezessete andares sem
corrimão, apoiado apenas numas tiras de sola presas às linhas. Grande aflição.
Fascina também percorrer
tantas escadas pelas estações de trem e metrô, que nos levam por labirintos
criados pelo tempo, nas mais variadas formas arquitetônicas. Ou as escadas da
Torre de Belém, em Lisboa, de onde saiu Pedro Álvares Cabral na sua nau para
descobrir o Brasil. E ainda tão íngreme escadaria do Arco do Triunfo, em Paris,
tantos batentes pisados por quem fez tanta história. Ali pode-se subir por
etapas, pois em pelo menos dois pontos há batentes para descansar. Mas depois
pode saber também que há um elevador que leva ao mesmo destino; o grande
mirante para apreciar muitas belezas de Paris.
*Jornalista
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