Em meio à chuva, caos e
apagão, a ação solidária
Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Em meio ao trânsito maluco provocado pelo apagão de
ontem (29) testemunhei, no cruzamento
da Prudente de Morais com a Nascimento de Castro, perto das 18 horas no “rush”
brabo, um exemplo de solidariedade, desses que só um espírito que pensa no
coletivo pode mostrar: semáforos apagados e chuva grande no começo da noite
eram os ingredientes perfeitos para o estabelecimento do caos. E lá estava eu
em meio àquele escarcéu, imaginando que chegando ao cruzamento das duas vias
enfrentaria o pior.
Na iminência de transpor a Prudente de Morais de
repente vi o braço de uma jovem estirado, determinando que eu parasse. Calça
jeans, blusa sem magas, listrada, em nada se parecia com alguém envolvida com
leis de trânsito. Mas ela estava lá e, com ela, outras duas moças. Molhadas,
ensopadas pela chuva forte, corriam de uma faixa para outra, gritando, braços
em movimento. Perceberam o drama e decidiram ajudar. E ajudaram. Outra
surpresa: os motoristas, quase à unanimidade, entendendo o esforço das meninas,
obedeciam a elas.
Naquele cenário me chegou uma vontade enorme de
realizar o trabalho de repórter, ficar ali olhando o esforço e o trabalho que
realizavam e, ao final, quando tudo já estivesse normalizado, entrevistá-las.
Não dava, deixar o carro aonde? Enquanto estava parado, esperando a ordem que
viesse delas, arrisquei uma pergunta: por que você está fazendo isso? A
resposta foi imediata: “Alguém tinha que estar aqui”, disse apressada, sorriu e
voltou para ordenar, pelo menos tentar, o trânsito. Tentar, sim, porque três
motoristas, diferentemente das meninas, não entenderam que a colaboração e a
solidariedade eram sentimentos necessários. Exceção à regra.
Fiquei depois pensando em que algumas empresas têm
investido para tornarem-se organizações servidoras. Já ouvi até palestras sobre
o assunto. E ali, naquele cruzamento da Prudente de Morais com a Nascimento de
Castro entendi que a empresa só conseguirá ser servidora se todos os seus
colaboradores conjugarem verbos na primeira pessoa do plural. Acabar com o eu
sou, eu faço, eu construo. As três meninas da Prudente com a Nascimento
nitidamente conjugavam o nós podemos, nós faremos. E puderam e fizeram. Cheguei
em casa com o sentimento de que havia perdido uma excelente matéria.
*Texto publicado na coluna
do jornalista no Novo Jornal [Leia mais]
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