Por João Bosco de Araújo
No parque de diversão, que era o Parque Lima e ficava armado
sempre ao lado da Catedral todos os anos e por quase três décadas, as moças e
rapazes explodiam de alegria. O sobe e desce na roda-gigante, as canoas, os
aviões, o carrossel de cavalinhos, a paquera na praça do coreto – justamente a
Praça da Liberdade. Da criança ao adolescente, ninguém ficava parado!
Naquela tarde de sábado, penúltimo dia de festa da padroeira
Sant’Ana de Caicó, o rapaz do sítio havia arranjado uma namorada. No
alto-falante tocava uma canção de Paulo Sérgio, onde o locutor com sua voz
postada acabara de anunciar: “De um alguém para outro alguém, no País da Lua”.
Os Beatles estavam em moda, mas suas músicas não tocavam naquela difusora.
Questão de costume.
O namorado, gentilmente, se oferece para dar um passeio na
roda-gigante. A moça, com seu jeito tímido, balança a cabeça afirmando
positivamente. O casal entra na fila e toma assento na cadeira giratória.
Outros rapazes que residiam na cidade ficaram a observar, atentos, os dois
sentados e felizes naquela poltrona de ferro a rodar e a balançar, suavemente.
A mocinha vestia uma saia curta e justa. Foi quando no movimento
da gigante roda e ao aproximar-se da turminha de amigos, todos leram,
estupefatos, escrito em sua calcinha branca “60 Kg Bruto”, estampado em letras
garrafais, da maneira como estava tipografado na saca de açúcar do armazém de
cereais.
A pobre moça, analfabeta, jamais imaginara que em suas vestes
íntimas estivesse escrita uma mensagem tão explícita e versal como àquela,
exposta ao público naquele momento de pura felicidade em sua vida, num dia de
alegria, de prazer, de festa de rua. Tampouco os rapazes demonstraram o que
acabaram de ver – ao menos enquanto viviam àquele flagrante sensual. Depois,
ninguém jamais mais esqueceu dos “sessenta quílo bruto” da calcinha da roda
gigante.
Era comum, na época, as pessoas mais simples confeccionarem suas
roupas com tecidos de sacos de açúcar ou de farinha, pois, geralmente, os
homens faziam dessas vestimentas seu uniforme de trabalho na roça e as mulheres
suas peças íntimas, como anáguas e calcinhas. Eram adquiridas em armazéns e
feiras ou, muitas vezes, de graça na casa do patrão.
Quem também presenciou esse flagrante sensacional, embora não
fosse do grupo de amigos da cidade, mas do casal de namorados, foi o rapaz
Manoel Sirino, que era queijeiro no Umbuzeiro e que por sua vez narrou muitos
outros causos por ele vividos e por outras pessoas do lugar. Ele sempre teve
uma criatividade fora do comum e juntava tudo isso em sua memória e me contava
todas as vezes que eu ia passar as férias escolares no sítio do meu pai Pedro
Salviano de Araújo, em Caicó.
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