Leonardo Sodré
Jornalista
e escritor
Aos 58 anos chego cético às festas natalinas. Nada
que perturbe minha fé em Jesus Cristo, mas chego cético porque enquanto criança
vivia o Natal como um momento mágico. Lembro-me que aos seis anos, quando nossa
família morava na rua Manoel Dantas, em Petrópolis, numa manhã de Natal,
curtindo os meus brinquedos, frutos da visita de Papai Noel – eu ainda
acreditava, conversei com um menino que chegou com olhar pidão no nosso portão.
- O que você ganhou de Papai Noel? Perguntei.
- Nada... Disse o garoto, com olhar triste, mirando
o meu principal presente: um de jeep de plástico vermelho, enorme, que acendia
até as luzes.
Depois que o menino foi embora inquiri papai e mamãe
sobre o fato daquele pobre garoto não ter tido a visita do “bom” velhinho.
Papai e mamãe me enrrolaram e nunca deram uma resposta satisfatória. Esse fato
nunca saiu da minha cabeça e aos poucos fui percebendo que o bom velhinho era
mesmo uma conta bancária com saldo suficiente para comprar presentes.
Fui crescendo e percebendo que o relacionamento das
pessoas deveria ser como nas vésperas de Natal. Escrevi sobre isso até ficar
completamente decepcionado com a realidade de que todo mundo é bonzinho,
perdoa, é perdoado e deseja tudo de bom apenas na festa que antecede a data de
nascimento de Jesus. O restante dos dias não condiz com a inegável presença de
Cristo Salvador em nossas vidas.
Ao longo dos anos tenho participado de festas
natalinas. As mesmas comidas, crianças que ainda acreditam em Papai Noel,
espumantes e muita gente que eu somente vejo uma vez por ano. Tudo igual.
Abraços, promessas, “a gente se vê” e por aí vai. E, no outro dia, durante o
almoça com as regalias do “resto de ontem”, fico a imaginar, na outra semana a
festa do Ano Novo. E haja promessas!
No dia 02 de janeiro tudo volta a ser como antes e
somente no final do ano vou voltar a me confraternizar, novamente, com pessoas
que nunca vejo, exceto meus amores cotidianos.
Uma promessa eu cumpri: não como panetone de jeito
nenhum!
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