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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Espírito do Natal

Por Jomar Morais*
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br
 
E o meu coração, do fundo do coração, pergunta ao seu coração: o que você sente na noite do Natal?
 
Uma emoção desmantelada, como a de um corintiano na conquista de mais um título no futebol? Um estado de êxtase, como o de um mangueirense ao ver sua escola brilhando no sambódromo? Uma alegria incomparável, como aquela que sentimos no nascimento do primeiro filho?
 
Certamente o Natal jamais produzirá sentimentos religiosos (esse é o nome) tão fortes e irrefreáveis quanto os que experimentamos em situações apaixonantes da rotina profana. Torcedores como os da Gaviões da Fiel são fundamentalistas, mangueirenses são crentes em transe, qualquer um de nós frente ao rebento que invade o nosso lar é devoto ajoelhado ante o milagre da vida.
 
O Natal é, ao mesmo tempo, suave e denso. É brisa que acalma no calor tórrido do verão e furacão que abala nossos alicerces. O Natal é assim. Ou já foi assim, quando a visão de um universo encantado nos mantinha mais próximos ao chão e mais sensíveis, unidos pelo sentimento de pertença ao mistério insondável da vida e da criação.
 
Se você não é capaz de mergulhar nesse estado de ânimo na noite simbólica de 24 de dezembro, desconfio de que se tenha perdido ou jamais tenha encontrado o espírito natalino. E esta não é uma questão religiosa.
 
Não é necessário ser cristão para entender e viver o Natal. Seu sentido é universal, transcende rótulos e castas que emergem das classificações. O nascimento e a vida de Jesus são eventos que ameaçam velhas referências, a partir de uma experiência radical de despojamento, abertura e inclusão. Em resumo, a imagem da manjedoura é a exaltação da simplicidade e a trajetória do homem Jesus, uma convocação à liberdade do amor num mundo aprisionado a preconceitos e temores.
 
Penso que a única condição para alguém vivenciar o espírito do Natal é romper o casulo do racionalismo e do individualismo utilitarista. É tornar-se criança, curiosa e prestativa, rolando na grama com amiguinhos que acaba de conhecer. É reencantar o universo e resgatar a equanimidade ante as contradições e paradoxos da vida, o traço mais marcante da presença do amor, conciliando as diferenças.
 
O Natal é delicado, mas também rude. Enleva-nos com a alegria da confraternização e assusta-nos com o chamado à realidade na rememoração da família, nosso paraíso e nosso inferno. É reencontro, mas também soledade, na evocação de eventos afetivos que preferimos sufocar a compreender. É diálogo entre anjos e demônios que a maioria tenta ocultar sob a mesa lauta e em corpos embriagados.
 
Não o tema, porém. O Natal é uma bela chance de nos conhecermos e crescermos a partir de nossa singularidade. Ele pode ser alegre ou triste, mas nunca será insípido ou irrelevante.
 
Feliz Natal!
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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