INSTALAÇÃO
DA COMISSÃO DA VERDADE DA UFRN – 18.12.2012
No decorrer da existência, passei por três etapas
fundamentais, onde pude assistir no palco da vida alguns fatos ligados à
convivência entre as pessoas. O primeiro momento, eu era ainda muito jovem.
Entrei na Faculdade de Direito da velha Ribeira no período mais grave da
história recente do governo de exceção (1964-1968). Recém casado e pai, não
pude me engajar nos movimentos políticos de então, nem na esquerda nem na
direita, mas convivi com os percalços e com a fuga forçada de alguns
contemporâneos. Fiz apenas o meu papel de estudante, aliviando os problemas dos
colegas, que também me atingiam, postulando, com êxito, a realização das provas
perdidas com as greves, de forma a que ninguém fosse prejudicado.
Num segundo momento, já em pleno exercício
profissional e no esplendor da minha capacidade laborativa, fui eleito
Presidente da OAB/RN, num pleito memorável, pois consegui a vitória contra um
poderoso advogado, ex-governador do Estado e, por isso, obrigado a realizar uma
correta administração. Foi aí que tive maior contato com a realidade e tomei a
iniciativa de publicar um MANIFESTO para a criação de um movimento em favor dos
oprimidos e perseguidos, que teve o nome de COMITÊ EM DEFESA DA VIDA, que assim
se iniciava: “Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante”(art. V da Declaração Universal dos Direitos do
Homem- ONU 10/12/48) a que corresponde o art. 5º, III, da Constituição da
República Federativa do Brasil, em vigor.
Esse Comitê foi instalado em sessão histórica,
reunida a sociedade civil organizada, aproveitando a data da conquista da Lei
nº 6.683 – Lei da Anistia, de 28 de agosto de 1979. Nesse ato colhemos o
depoimento de quase todos os que responderam inquérito policial-militar e o
registro foi feito em filme pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular,
tendo à frente o, igualmente jovem, Roberto Monte.
Dizíamos: “DENTRO DESTE ESPÍRITO, CONCLAMAMOS TODA A
SOCIEDADE NORTE-RIO-GRANDENSE a cerrar fileiras na luta contra a violência e a
impunidade, respaldando e acompanhando as denúncias, visando a desestimular
essas ações, MEDIANTE A PUNIÇÃO EXEMPLAR DOS CULPADOS, inclusive com divulgação
das apurações dos fatos ocorridos, para que se coíba, de uma vez por todas, a
permanência dessa indignidade, que é uma vergonha à civilização”.
O final do MANIFESTO transcrevia parte do Estatuto
do Homem, do poeta THIAGO DE MELLO: “Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida, e que de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida
verdadeira.!(Art. I). Nosso esforço colheu alguns frutos e durou por mais dois
mandatos, depois foi esquecido e eu cheguei a perder a fé.
Agora, vivo o terceiro momento, quando o outono
povoa o meu ser, já alquebrado pelos primeiros sinais de velhice, recebo o
convite da Magnífica Reitora para Presidir a Comissão da Verdade da UFRN,
calcada nos objetivos da Lei Federal nº 12.528, de 18/11/2011, ofertando-me a
última oportunidade de colaborar para a restauração da verdade histórica dentro
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e possibilitar reparações de
injustiças.
Assumo o encargo com coragem, mas sem ódio. Não
quero perder o meu resto de tempo com revanchismo. Pretendo, com a inestimável
colaboração dos nobres integrantes deste Colegiado, que representam vetores
diversos da sociedade civil, conduzir os trabalhos dentro da racionalidade e,
sobretudo da verdade dos fatos, para alentar, ainda, aqueles que tiveram o seu
destino marcado e os seus ideais postergados, mas que não perderam a capacidade
de se indignar com os atos de força e a sonhar com uma esperança verdadeira de
reparação.
A data de instalação desta Comissão coincide com os
52 anos da federalização da nossa Universidade, que fora criada em 25 de junho
de 1958 e instalada em sessão solene no Teatro Alberto Maranhão, a 21 de março
de 1959.
Concluo dizendo: “FOI DECRETADO QUE AGORA SÓ VALE A
VERDADE”.
SÓ DEPENDE DE NÓS!
O b r i g a d o.
CARLOS
ROBERTO DE MIRANDA GOMES
Presidente
da Comissão da Verdade da UFRN
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