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sábado, 17 de novembro de 2012

Fiz visita, vi um álbum e provoquei espantos

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
Sentir-se fora de moda. Duplamente fora de moda. Foi assim que me vi numa tarde de sábado deste novembro que está meando. Primeiro, fui fazer uma visita a parentes que há muito não via. Você, amigo, lembra que as pessoas, as famílias se visitavam? E que até retribuíam ou, como era comum dizer, “pagavam” as visitas? Fiz a visita porque desejei fazê-la sem esperar “pagamento”.
 
Deu vontade, saudade, talvez necessidade de rever pessoas queridas. Ao comentar depois a visita descobri, na cara de espanto do amigo com quem conversava, que usara uma  palavra absolutamente démodé. E vejam só, acabei de escrever uma palavra igualmente fora de moda. A expressão do amigo foi acompanhada da interrogação, quase soletrada: V-I-S-I-T-A? Interrompi o assunto. Imagine se eu contasse, como desejava, que tinha visto um álbum de fotografias decorando a mesa central da sala. Não me atrevi mais. Mas eu vi e gostei de ter visto, menos pelo apego ao passado e mais por conter ali, naquele caderno de capa dura, o registro da história de pessoas simples, humildes e de lugares que tiveram seus cenários transformados por novas construções ou traçados.
 
É curioso rever e perceber as mudanças contundentes que o tempo vai imprimindo nos homens, nas mulheres e nos lugares. Na visita que fiz vi o álbum e não me contive. Tomei-o nas mãos e passei a folhea-lo. Uma quase árvore genealógica: avós, pais, tios, filhos, sobrinhos, agregados, além de amigos, claro. E chama a atenção a qualidade das fotografias, grande parte em preto e branco, ainda nítidas, algumas emolduradas em papéis grossos e trabalhados, realçando mais as imagens. Retratavam casamentos, primeira comunhão, passeios na praça, a família à frente da casa e, junto a todos, o cachorro, daqueles vira-lata mesmo, de pelos todos brancos.
 
Chamava atenção, ainda, a elegância das pessoas, homens e mulheres. Elas, vestidos sempre compridos, os sapatos invariavelmente altos, algumas com chapéus. Eles, com paletós, jaquetões, sapatos bico finos. Os ambientes das fotos individuais eram muito semelhantes, parecendo fotos feitas em estúdios.
 
Tudo bem distribuído nas páginas do álbum, repousando nas velhas cantoneiras que, coladas às páginas, prendiam as fotografias em suas quatro quinas. Coisa meio mágica, difícil de ser vista hoje. Saí me perguntando se aquele álbum ainda provoca a curiosidade de outras pessoas, como fez comigo. Depois, aconteceu o encontro com aquele amigo que fez cara de espanto ao ouvir o começo do meu relato.

Entendi. Como falar de visitas e álbum de fotografias em mesas de centro de salas de estar em tempos de aifones e aipedes? Você não precisa ir à casa de ninguém para conversar ou ver as fotografias, você as recebe em seu telefone, ali, na hora e ainda pode fazer, no mesmo instante, comentários a respeito. As fotos são coloridas, feitas em cenários fantásticos, mostram pratos bonitos e coloridos em restaurantes, visitas a pontos turísticos, poses sensuais, sorrisos que duram apenas o tempo do click e muito mais.
 
Pra terminar: tenho outra visita em mente, torcendo para ver um novo álbum. Mas não provocarei mais espanto em ninguém. Satisfeita a curiosidade, permanecerei, como um ser normal, vivendo neste tempo veloz de aifones e aipedes.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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