Por
João Bosco de Araújo
O circo me foi sempre vivo, nem sei contar às vezes
que me vi contagiado pela alegria de criança ao ouvir na rua: “O circo chegou!”
Ficava armado no terreno do acampamento - vem disso o nome do bairro caicoense
– e logo íamos inspecionar in loco,
para repassar aos outros meninos vizinhos:
“É grande, tem bicho, muitos carros”, era o diagnóstico imediato da
capacidade e tamanho do espetáculo. Restava saber o dia da estreia,
estrategicamente, num final de semana, e
esperar o grito cortando a Coronel Martiniano, entrando por outras ruas
centrais da cidade: “Hoje tem espetáculo. Tem sim senhor. Às oito horas da
noite. É, sim senhor!”
Passada a temporada, geralmente duas semanas, nunca
mais do que quatro, pelo porte da população, desarmavam-se as lonas coloridas e
o circo seguia seu destino nômade de compartilhar a vida com seus espetáculos,
fossem menor ou maior, mas sempre de energia para os adultos, seus palhaços
trapalhões, sem dispensar alegria e algodão doce para as crianças.
Num desses, que nos marcou, foi o Grand Bartolo
Circo, final dos anos sessenta, que, inclusive, apresentava drama em sua programação. Numa das peças, “O direito
de nascer”, antigo sucesso da radionovela, que ainda perdurava, num tempo sem a
massificação da televisão, aliás, longe de Caicó, apenas na capital havia o
sinal de tevê.
Apesar de ido embora, o circo continuava em nós. Juntávamos
um grupo para armar as brincadeiras, escolhida a casa de dona Maira Cunha, na
Augusto Monteiro. À noite, os vizinhos, e de outras ruas ao redor, enchiam o
armazém nos fundos da residência para ver os “espetáculos” que nem sempre
terminavam como ensaiados à tarde, assim mesmo os aplausos de aprovação. No
colégio, sim, a reprovação de alguns colegas do circo por não acompanhar as
lições fora da aula. Dentre esses, não necessariamente os reprovados, Jaciel
Cunha (Galego), seu irmão Jurandir e suas irmãs Miriam e Marieta, todos filhos
de dona Maria; Willame do Hotel Guanabara (Cabecinha); meu irmão Gilberto;
Justino Dantas; os irmãos Pedro e Paulo Afonso; meu primo Eugênio e mais outros
que compartilhavam das brincadeiras.
Hoje, com o circo da televisão – literalmente - e a
própria arte circense exibida no meio eletrônico, ir ao circo tem sido menos acostumado
e valorizado, se bem que o espetáculo ao vivo jamais acabará, defende
especialistas no assunto.
Circo não tem mais animais, uma medida politicamente
correta, mas tem espetáculo, sim senhor! Nesses dias, lembrei-me de meu pai, foi
com ele que descobri a admiração pelo circo. Estava no Circo Tihany, ainda uma
das atrações que preserva a arte circense no mundo, já com sessenta, ou mais,
anos de espetáculo. Na entrada, perguntei se o fundador continuava vivo e a resposta
de um mexicano, a maioria dos funcionários, foi que ele mora nos Estados Unidos.
A propósito, o Tihany surgiu no Brasil e ganhou o mundo nas mãos dele,
o mágico húngaro Franz
Czeisler, hoje com 95 anos de idade.
Viva o circo, viva o espetáculo. Ir ao circo é uma
felicidade, seja aonde for, em qualquer idade!
0 comentários:
Postar um comentário