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domingo, 2 de setembro de 2012

Único brasileiro vivo a contribuir para a chegada do homem à lua vive esquecido e sem aposentadoria

Como foi em Natal o dia do homem na Lua
 
Novo Jornal encontra o “único brasileiro vivo que contribuiu para a chegada do homem à Lua”. É  um Neil Armstrong papa-jerimum
 
Reportagem de Nadjara Martins para o NOVO JORNAL
 
“Eu sou o único brasileiro vivo que contribuiu para a chegada do homem à Lua”. A frase pode até soar arrogante para alguns, mas diante da simplicidade de seu autor, não pode ser encarada deste modo. Antônio Albuquerque de Medeiros, 71, mais conhecido como  “seu Toinho”, tem todo o direito de reivindicar o posto.
 
Durante 14 anos, o senhor de gestos simples e memória fotográfica, operou um dos 29 telescópios Baker-nunn espalhados pelo mundo – um deles localizado em Natal. Por meio do rastreamento de satélites, essas máquinas foram utilizadas para mapear o céu e definir o caminho que o foguete Apollo 11 e Neil Armstrong fariam até a Lua, em 20 de julho de 1969.
 
Desde 1945, Natal já era uma capital conhecida por sua estratégica posição geográfica. Localizada na “esquina do continente”, a cidade é o único ponto de encontro que possibilita viagens para três continentes: África, Ásia e Europa.
 
Além disso, em 1965, graças à sua localização próxima a linha do Equador Magnético – local em que os pólos magnéticos da terra se encontram e se anulam – a capital potiguar também passou a abrigar a primeira base aeroespacial da América Latina: a Barreira do Inferno. O fato alçou Natal ao status de Capital Espacial do Brasil.
 
Talvez Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Audrin, astronautas tripulantes da missão Apollo 11, não imaginassem que todo o treinamento e disciplina que superaram para alcançar um mundo sem gravidade necessitasse, também, da ajuda de um anônimo habitante da esquina do continente. Antônio, na época com 26 anos, um curraisnovense formado apenas “na escola da vida”, media, fotografava e rastreava a trajetória de todos os satélites já lançados, que percorriam o céu potiguar durante as noites da década de 1960.
 
Naquela época, o mundo era dividido em dois pólos: o capitalista, representado pelos Estados Unidos, e o socialista pela União Soviética (URSS). Desde 1958, as duas potencias mundiais disputavam a hegemonia política, e o ponto alto desta disputa estava na ‘corrida espacial’. Desde 1958, EUA e URSS barganhavam o papel de potência mais evoluída tecnologicamente, a ponto de ser responsável por levar o homem à lua.
 
Apesar da URSS ter saído na frente, quando em 1961 enviou o primeiro homem ao espaço, o astronauta soviético Iuri Gagarin, os EUA logo assumiu o controle da corrida. O projeto Apollo, desenvolvido entre 1961 e 1972, tinha o principal objetivo de levar o homem até a lua. E é neste ponto que entra o Brasil.
 Através de uma parceria entre a NASA e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1967 o país recebeu o projeto Banker-nunn. Instalado no Centro de Pesquisas
 
Espaciais Barreira do Inferno, o projeto contava com uma estação destinada a rastrear o posicionamento de satélites de maior relevância. Esse rastreamento, que já era feito em outras cidades do mundo, foi um dos estudos que possibilitou à NASA definir qual a trajetória que seria percorrida pelo Apollo 11.
 
“Eu tinha todas as estrelas do céu na minha mesa”, conta Albuquerque, sem esconder o orgulho. Ele se refere às fotos que a câmera Baker-nunn tirava das estrelas e satélites visíveis na noite potiguar. Pesando 2,5 toneladas, a máquina, apontada para o céu, fazia uma trajetória de 180º de leste a oeste com uma lente de 40 polegadas de espessura.
 
Cada laser disparado pela máquina refletia no satélite. O reflexo era captado pela câmera, gravando em placas de vidro um negativo do que percorria o céu naquele momento. “Ela conseguia tirar uma foto de uma bala de chupar a 440km de altitude”, completa.
 
Albuquerque não se subestima: ele sabe que é a memória viva do que aconteceu naquela época. “Somente duas pessoas controlavam aquela máquina, mas só eu estou vivo”, conta. “Eu tenho o maior orgulho de ter feito parte da história potiguar e ter ajudado ao desenvolvimento da tecnologia de hoje”.
 
Entretanto, apesar de saber da importância de tudo o que já fez, ele se emociona ao olhar arquivos antigos. Entre papéis amarelados, desencavava comprovantes de pagamento (ganhava o equivalente a R$12.500 mensais), o livro de notas em que catalogava os satélites e até mesmo um diploma que recebeu da NASA pelo reconhecimento do seu trabalho.
 
O reconhecimento, porém, ficou somente no papel. Com o fim da corrida espacial e o corte de recursos para o projeto Apollo pelo presidente Richard Nixon, o Projeto Banker-nunn também fechou as portas. Após 14 anos, Albuquerque e os demais pesquisadores foram mandados de volta para casa, sem aposentadoria ou auxílio financeiro. O ex-operador passou a sobreviver com a renda de um salário mínimo, proveniente da pequena oficina mecânica que montou.
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