Por Flávio Rezende*
escritorflaviorezende@gmail.com
O jornalismo praticado no mundo inteiro é composto
pelo que chamamos de editorias. Todos os veículos de comunicação são compartimentados
em política, esporte, cultura, cidade, regional, internacional, nacional, sendo
essas as principais, existindo subeditorias como saúde, moda, arquitetura,
educação e muitos outros assuntos.
Conhecendo o ser humano como ele é os veículos de
comunicação também adotam em suas páginas e/ou espaços televisivos e
radiofônicos, a editoria ou subeditoria do social, que pode ser a simples
exposição do que chamam de sociedade, aquele mundo das pessoas ricas e famosas,
como também o social com informações gerais, o que vem sendo adotado na
modernidade para que não caibam críticas mais contundentes ao trabalho
jornalístico dos profissionais que seguem esta linha.
As colunas sociais são muito comuns e apreciadas, ao
mesmo tempo em que são igualmente odiadas. Os apreciadores, obviamente, são as
pessoas que aparecem, geralmente um seleto grupo que circula em sociedade, que
adquire produtos em lojas badaladas e está sempre na lista vip dos hostess e
dos organizadores de inaugurações e de novos empreendimentos classe A.
Os leitores dos jornais e telespectadores e/ou
ouvintes das mídias rádio e tevê que não pertencem a este seleto grupo, seguem
duas tendências. A dos que não se importam e adoram saber o que os ricos &
famosos fazem, comem e vestem e, o grupo dos que acham tudo isso uma grande
baboseira e, até uma agressão.
Estou escrevendo este artigo depois de abrir um
jornal e observar uma coluna com muitas fotos de pessoas da sociedade, todas
com o sorriso escancarado, esbanjando alegria e roupas belíssimas. Confesso que
me senti um pouco mal, não sei se inveja, se despeito, sei lá, achei aquilo
meio estranho, não sei dizer que tipo de sentimento realmente rolou, mas algo
me incomodou com aquele entusiasmo todo de todo o grupo dividido em várias
fotos.
Ai fiquei refletindo sobre meu ser. Eu também
pertenço a este grupo, ganho bem, sou o que chamam de formador de opinião,
recebo muitos convites, atendo alguns e, sempre, aonde chego, sou convocado
para tirar muitas fotos, às vezes pelo fato de ser jornalista, em outros casos
por ser diretor de bloco, pode ser pelo fato de ser presidente da Casa do Bem,
tem ainda os que tiram fotos por eu ser escritor com muitos livros publicados,
enfim, educadamente atendo todos os pedidos e, outra confissão, imprimo ao
instante requerido, um sorriso que vai ficar eternizado na foto, muito superior
ao real no momento do click.
A alegria que os leitores e/ou telespectadores
observam em minha pessoa no instantâneo ou na reportagem da tevê, não é a real,
é uma alegria um tom um pouco acima, então estou agora pensando, será que estou
agindo corretamente? Essa alegria a mais que toma conta de todos na hora das
fotos e das exposições midiáticas incomoda muitos verdadeiramente? Qual o
motivo disso tudo? Eis um prato cheio para análises e reflexões pensamentais,
filosóficas e sociológicas.
Certa vez li um colunista de generalidades, mas, que
não aguenta esse lado social da mídia, escrever que não suporta essa hiper
alegria da sociedade nas colunas sociais. Ele não está só, muitos pensam iguais
e isto não tem solução, não tem remédio, para os que não gostam, o único jeito
é não ler essas colunas, mas, outra confissão, sei que muitos que afirmam que
não leem, leem sim, assim como muitos que dizem que não toleram os programas de
tevê sobre crimes e atrocidades, às vezes assistem, até para formar opinião, dizem.
O réu confesso aqui está numa encruzilhada, posa
para fotos, aparece mais sorridente que publicidade de pasta de dente, mas,
também, vez por outra ao observar gente feliz demais em eventos, sente certo
incômodo, o que será?
*Flávio Rezende é escritor,
jornalista e ativista social em Natal
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