Por Flávio Rezende*
escritorflaviorezende@gmail.com
Tem umas coisas que podem até ter explicação, mas,
pessoalmente, não consigo digerir. Por
exemplo, agora na política, o tempo na mídia é determinado pela
representatividade dos partidos, ai, pergunto, se a disputa é por um novo
parlamento, determinar o tempo dos que postulam ocupar um novo espaço, pelos
que já ocupam, não é totalmente fora de propósito? O correto é que todos que
postulam saiam em igualdade de condições, portanto o tão precioso tempo deve
ser igualitário, posto que, como está os aquinhoados com mais tempo, terão
imensa vantagem, maculando logo de cara, a tal democracia eleitoral.
Outra coisa, o camarada disputar o cargo estando no
poder é de uma falta de bom senso incrível. Por mais que tenhamos leis, que
separem as atividades do cara no poder e, as da campanha dele, lógico, claro,
indiscutível que as inaugurações, as aparições, as declarações, a mídia
espontânea do cara, são de longe, uma vantagem com relação aos demais, maculando
assim, a tal democracia eleitoral.
Vez por outra recebo e-mails de propostas que
encontram em meu ser guarita e que me remetem a grande alegria interior. Cito
um que propõe que os políticos passem a pagar por suas aposentadorias, que elas
sejam iguais à de todos nós, pessoas comuns, que eles vão trabalhar em seus
próprios carros, paguem suas passagens aéreas do próprio bolso e seus
funcionários também, que só tenham um mês de férias e que respondam a processo
sem imunidade nenhuma. Eles receberiam um ordenado, diga-se, de médio valor,
incentivando assim aos postulantes destes cargos não estarem ali em busca de
emprego e, sim, para defender ideias, posições e aceitariam trabalhar por
salários medianos, como os padres, alguns funcionários públicos, militares e a
grande maioria do povo brasileiro.
Essas propostas podem parecer
inocentes, ingênuas,
mas nos países sérios, onde as coisas funcionam de maneira mais próxima ao
mundo real, tudo isso é absolutamente normal. Aqui, as vestais do poder, sequer
admitem discutir o assunto. Vez por outra leio que um ou outro político,
levanta questões parecidas, mas, ninguém dá atenção, nem a mídia, que bem podia
levar um cara desses para muitas entrevistas, expondo suas ideias de tal forma,
que pudesse criar um forte movimento social de mudanças radicais.
Tempos atrás pensava que o Partido dos Trabalhadores
seria portador de boas novas para o povo brasileiro, que mudanças aconteceriam,
ledo engano, hoje, assisto desfilar nos canais de TV e, nas revistas e jornais
que leio, a alta cúpula do partido desnuda em sua sede de poder eterno,
flagrado em má conduta de mesadas partidárias aos mesmos vampiros que, antes,
eram apontados como os capetas da república.
Em nome dessa tal governabilidade santos e belzebus
se misturam cada qual com suas razões e defendidos por advogados de alto poder
remuneratório, num caldeirão tão quente, que a razão se evapora na medida em
que a emoção proporcionada pelo capital promove em suas vidas, o mergulho
profundo num mar de dólares, euros, mulheres peladas, cuecas recheadas,
dossiês, contrabandos, jogos de azar, traições, contradições e maldições,
apagando da mente esperançosa dos idealistas e das pessoas de bem, todo um
depósito de crenças num sistema político imaculado e correto.
Não nego e sou grato ao Partido dos Trabalhadores
pelas grandes vitórias na condução do Brasil a pelos bons momentos e projetos
sociais implantados, mas, não nego também, a decepção pela maneira como tentou
se perpetuar no poder, por estes planos, antes condenáveis e, agora, igualmente
utilizados.
Dilma mostra certa disposição em caminhar em outras
direções, espero que tenha vontade e determinação para acabar com a nomeação de
pessoas por critérios partidários, implantar uma ampla reforma política
acabando com o ouro do poder, reformando o judiciário, mudando leis arcaicas e
fora de época e, deixando esse povo da base aliada comendo na sua mão, esse
povo precisa deixar de receber milho e levar uma surra de ética, ir para a
cadeia quando delinquir, ficar preso quando desviar, voar e andar com as
próprias pernas, sentir calor no trânsito, pegar engarrafamento, usar o cheque
especial, chega de assessores, ECT free, gráfica, carro, mordomo, rapariga e
desserviço ao Brasil. Se o petróleo é nosso, se a soja é nossa, se a Amazônia é
nossa, por qual motivo as câmaras municipais, assembleias estaduais, a câmara
federal e o senado são deles?
*Flávio
Rezende é escritor, jornalista e ativista social em Natal
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