Presidente
da ONG SkyTruth e um dos palestrantes do VII CBUC recomenda que governos,
empresas e cientistas aprofundem suas políticas e estudos para fazer
diagnóstico e definir ações mais corretas que possam ser executadas em casos de
acidente.
O geólogo norte-americano John Amos, presidente da
organização não governamental SkyTruth, disse que governo e empresas devem
manter em dia seus planos de inspeção e de execução para informar a sociedade,
com transparência, sobre os avanços da exploração dos campos de petróleo e do
pré-sal, tecnologias adotadas e mapas de contenção caso ocorram vazamentos.
“Isso requer do governo e da indústria investimentos significativos de recursos
e o compromisso com a segurança”, alertou Amos, um dos primeiros a mapear a
extensão do vazamento de óleo ocorrido no ano passado na bacia de Campos (RJ)
Ele foi um dos palestrantes do VII Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação (CBUC), que acontece em Natal até a próxima quinta-feira, dia 27. O
CBUC é realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
O alerta de Amos, entretanto, não serve somente para
governo e empresas que exploram petróleo e seus derivados. Segundo ele, os
cientistas também têm que aprofundar seus estudos e técnicas para identificar
qual o melhor plano de ação a ser usado em casos de vazamento. “No Golfo do
México, em 2010, o vazamento estava ocorrendo no fundo do mar, a 1.524 metros
(5000 pés) abaixo da superfície, e agimos borrifando dispersantes químicos
dentro da nuvem de óleo e na mancha de óleo na superfície. Isso fez com que
muito do óleo afundasse na água, que acabou sendo transportada de forma
imprevisível pelas correntes marinhas”, disse. Essa ação, de acordo com Amos,
acabou sendo criticada porque o vazamento de óleo acabou sendo mais tóxico e
afetou as pessoas e a vida marinha numa extensão maior. “Cientistas ainda estão
estudando esses impactos”, afirmou.
Amos fez ressalvas à exploração do pré-sal
brasileiro e também do subsal, porque considera ambas as técnicas desafiadoras
– geralmente acontecem em águas profundas e os poços são mais difíceis de
perfurar com sucesso. “O óleo e o gás desses poços estão sob maior pressão e
qualquer problema ou falha no design e construção de um desses poços pode
resultar em sérios problemas, como explosão”, ressaltou.
No VII CBUC, Amos abordou o tema “Possíveis impactos
com a exploração de petróleo no pré-sal brasileiro e águas profundas e recentes
incidentes internacionais” dentro do painel “A relação das mudanças climáticas
globais, perda de biodiversidade e as recentes catástrofes ambientais”.
Confira a entrevista concedida por Amos à Fundação
Grupo Boticário.
1- Quais as áreas em águas profundas que hoje em dia
estão em risco devido à exploração de petróleo no Brasil?
No Brasil, a expectativa é que a maior atividade em
alto mar continue a se concentrar nas bacias de Campos e Santos, nos estados do
Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. A atividade de exploração em águas
profundas nessas áreas irá cada vez mais apontar a complexidade e desafios
tecnológicos que o subsal e o pré-sal trazem ao longo da faixa leste, em águas
profundas nas margens dessas bacias. Mas as plataformas de perfuração também
atuaram no ano passado nas águas profundas da bacia do Espírito Santo, e
próximo à costa do Sergipe e da Bahia onde a plataforma continental é muito
estreita. Algumas plataformas têm também operado em águas rasas nos estados do
Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.
2- Qual impacto que essa exploração pode trazer à
biodiversidade?
Por ser geólogo, e não biólogo, não conseguirei
responder a essa pergunta. Porém, posso dizer que nossos estudos no Golfo do
México mostram que pequenos vazamentos e derramamentos de óleo são comuns. O intenso desenvolvimento da costa é
necessário para apoiar as atividades em alto mar, mas esse desenvolvimento traz
consigo atividades impactantes como o processamento de óleo e gás,
armazenamento e meios de transporte, que alteram radicalmente o meio ambiente
devido à destruição direta e à degradação indireta do habitat. Se levarmos em
consideração a área atual de exploração no Brasil, entre as regiões do Rio de
Janeiro e São Paulo, estimamos que as unidades de conservação localizadas num
raio de 1.000 quilômetros correm risco.
3- Quais os desafios da exploração em águas
profundas?
A exploração do pré-sal e do subsal é tecnicamente
desafiadora. Acontece geralmente em águas profundas, e os poços são mais
difíceis de serem perfurados com sucesso. Há grande risco financeiro e grande
risco de segurança. Como vimos no Golfo do México, os problemas são mais
difíceis e demoram muito mais tempo para serem consertados quando acontecem em
águas muito profundas. Além disso, os poços de subsal são perfurados milhares
de metros mais abaixo da terra do que os de pré-sal, então o óleo e o gás
desses poços estão sob maior pressão e, portanto, são mais difíceis de serem
controlados: qualquer problema ou falha no design e na construção de um poço de
subsal é mais provável de resultar em sérios problemas, como uma explosão, do
que em poços de pós-sal mais rasos e com menor pressão.
5- Quais regiões podem ser afetadas em caso de
acidente?
É muito difícil de prever qual área seria afetada
caso acontecesse um derramamento muito grande de óleo. Depende muito de onde o
problema está localizado, das ações que as correntes de ar e marítimas fazem e
de como agimos diante de um vazamento. No Golfo do México em 2010, o vazamento
estava ocorrendo no fundo do mar, 1.524 metros (5.000 pés) abaixo da
superfície, e agimos borrifando dispersantes químicos dentro da nuvem de óleo e
na mancha de óleo na superfície. Isso fez com que muito do óleo afundasse na
água, que acabou sendo transportada de forma imprevisível pelas correntes
marinhas. Muitas pessoas criticaram essa abordagem, alegando que isso fez com
que o vazamento de óleo fosse muito mais tóxico e prejudicial às pessoas,
frutos do mar e vida marinha. Os cientistas ainda estão estudando isso. Por
fim, pessoas e negócios ao redor de todo o país podem ter sido afetados. O
comércio de frutos do mar embalados na Virginia, a 1,2 mil quilômetros (800
milhas) do Golfo do México, foi financeiramente afetado pelo vazamento
ocorrido.
6- Como proteger as áreas destes impactos se boa
parte dessa exploração é feita pelo Governo? Como prevenir a ocorrência de
acidentes nessas áreas?
A melhor solução é usar menos petróleo, pois assim
precisamos escavar menos. A próxima coisa a se fazer é ter certeza de que as
regulamentações do governo, inspeções e ações de execução sejam dignas de
confiança, publicamente transparentes e acompanhem os avanços globais mais
recentes em exploração, resposta aos acidentes e tecnologia para a limpeza de
vazamentos de óleo. Isso requer do governo e da indústria um investimento
significativo e sustentado de recursos e o compromisso com a segurança. Nós
também precisamos executar trabalhos científicos a fim de saber a melhor forma
de agir quando os vazamentos acontecerem. Será mesmo uma boa ideia usar
dispersantes químicos? Se assim for, em quais condições? Existe uma nova
tecnologia de limpeza que mostre garantia e que deveria ser desenvolvida?
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VII CBUC – Congresso Brasileiro de Unidades de
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