Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
Ao deliciar-me com a leitura da segunda edição de
“Destino de Pássaros e Outros Destinos”, do poeta Francisco de Assis Câmara,
fui provocado pela seção mais singela do livro, aquela em que o autor compõe
versos inspirados em provérbios, os ditados populares repletos de sabedoria prática
que no passado eram recurso pedagógico dos pais na transmissão de valores e
crenças aos filhos. Se você, leitor, tem mais de 40 anos certamente aprendeu em
casa que “é melhor andar só do que mal acompanhado” e, talvez, ainda repita
entre amigos as velhas máximas da vovó: “De esmola grande o cego desconfia”,
“Boa romaria faz quem em sua casa está em paz”…
Os provérbios têm quase a idade do homo sapiens.
Muitos dos que chegaram a nós surgiram na antiguidade, forjados no anonimato
para sintetizar o conhecimento que resulta da experiência humana em diferentes
culturas. Até a Bíblia lhes concede um lugar de relevo em seu livro
“Provérbios”. Em seu formato simples, curto e direto, os ditados populares nos
levam ao ponto, estabelecendo juízos que refletem arquétipos universais,
princípios éticos e também o imaginário coletivo de cada nação e cada cultura,
com a sua carga de preconceitos e chauvinismo.
Provérbios expressam conhecimentos comuns e não
necessariamente a verdade. Mas, embora isso pareça extemporâneo, penso que nos
dias atuais eles poderiam cumprir uma função terapêutica e preventiva –
inerente ao poder da palavra -, curando transtornos e obsessões que atazanam
nossas vidas ricas de barulho e carentes de sentido. Reproduzidos por pais ou
receitados por psicólogos e médicos, funcionariam como pílulas sem efeitos
colaterais sobre os tecidos da alma que constituem o caráter e os sentimentos.
Aqui, algumas indicações:
“A palavra é de prata, o silêncio é de ouro”.
Recomendado para os que padecem do mal da loquacidade, incapazes de ouvir o
próximo e observarem a si mesmos.
“Águas passadas não movem moinhos”. Indicado para os
saudosistas patológicos e os que se ataram a seus psicanalistas.
“Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos”.
Perfeito para vanguardeiros que repetem a rotina dos próprios pais.
“Não há rosas sem espinhos”. Prescrito para os que
se perderam na busca da felicidade vendida.
“De grão em grão a galinha enche o papo”. Receitado
para os que desconhecem o valor do trabalho, sufocados na ansiedade por
resultados.
“Quem compra o que não pode, vende o que não quer”.
Exato para inscritos no Serasa, compradores compulsivos e os incapazes de
planejar.
“São bambas as pernas do coxo, e o provérbio na boca
dos insensatos” (Provérbios, 26:7). Ideal para gurus fabricados e muitos
autores de autoajuda.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL e em seu portal Planeta Jota
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