Por Albimar Furtado*
Jornalista
▶ albimar@superig.com.br
Quem leu, certamente ficou indignado. Li e sofri com
a matéria da visita do presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo
da Silva Vaz, que em Natal visitou o “Sandra Celeste” e constatou: não tem
aparelho de Raio-x, zerado de oxigênio, falta papel de prontuários, médicos
poucos. Telefone? Foi cortado. E concluiu que não se pode deixar uma criança
“perambulando por Natal para fazer alguns exames simples”.
A indignação só chega completa se você, depois da
leitura, se imaginar no lugar de quem cuida das crianças que necessitam, com
frequência ou mesmo vez por outra, de buscar as estruturas criadas para zelar
pela saúde delas. E esse lugar, essa tarefa, é sempre da mãe. Acordar cedo com
o cantar do galo (ainda é ouvido em algum lugar?), café pouco e apressado,
deixar a casa cuidada e correr em busca do tratamento médico para o filho.
Criança no braço, o sol ainda saindo, ela anda um
pouco até chegar à primeira fila, a do ônibus. Espera um pouco. No transporte,
empurra com a força da mente a velocidade desenvolvida para chegar rápido e
pegar um lugar bom na nova fila que enfrentará na chegada ao hospital.
Finalmente está ali, juntando-se ao bloco das muitas outras que a exemplo dela,
também acordaram com o alvorecer, apressaram-se nos afazeres domésticos e
saíram na esperança de ter de volta a saúde de quem precisa de sua proteção.
Esperam. Ouvem informações típicas de quem está
querendo ganhar tempo, de quem se esforça para anunciar explicações para
problemas que se arrastam com o tempo, e se arrastam, se arrastam…
E aí chega a informação daquilo que foi constatado
pelo presidente da Sociedade Braileira de Pediatria: não tem raio-x, não tem
oxigênio, falta papel para os prontuários, médicos poucos. O menino não vai ser
atendido. Marcam uma nova data, como se a doença ficasse ali, estanque, sem
evoluir, até que o novo dia chegue e, com a graça de Deus, aconteça o milagre:
já se terá o raio-x, o oxigênio, o papel para fazer os prontuários. Criança no
braço, desesperançada, a mulher toma o caminho de volta. Nova fila, agora sob o
sol forte da manhã, ônibus cheio, trechos para caminhar, a casa, a criança
doente sem medicação, à mercê dos humores dos cofres e das decisões do poder
público.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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