Por Paulo Tarcísio Cavalcanti
Jornalista
▶ tarcisiocavalcanti@bol.com.br ▶http://ptarcisio.blogspot.com
Só com INSS e transporte, o trabalhador que ganha o
salário mínimo está gastando 20% do que recebe. Isso, se só trabalhar 20 dias
por mês e se só gastar duas passagens de ônibus por dia. Pode fazer a conta.
Poderia aqui plagiar aquela professora que calou os
deputados – Amanda Gurgel – e lançar o desafio: Quero ver qual o ser humano
capaz de sobreviver com tão pouco. Não o farei. Pois, do meu sonho à realidade,
a diferente é gritante.
São milhares (ou milhões?) os que sobrevivem até com
menos pelo Brasil afora. Sobrevivem? Deus sabe como, mas a realidade é que
conseguem sobreviver.
Agora mesmo, em plena campanha eleitoral, a passagem
de ônibus em Natal passou para R$ 2,40. Um preço muito salgado pra quem ganha o
salário mínimo. Entretanto, ao que se diz, apesar disso, isto é: apesar de caro
pra quem paga, a tarifa não parece ser tão doce assim pra quem a recebe – os
empresários.
A questão da tarifação do transporte de massa em
Natal merece, na realidade, um debate mais aprofundado, até porque, além da
questão do preço, é constante e antiga a queixa da população quanto à sua
qualidade.
O momento da campanha talvez fosse um instante
propício e oportuno para a formulação desse debate. Talvez – repito. Primeiro,
porque não sei se os candidatos teriam interesse e coragem para enfrentá-lo, de
forma séria e honesta; segundo, porque correríamos o risco de ter um debate
“pra inglês ver”, marcado muito mais por promessas mirabolantes do que por compromissos
capazes de serem resgatados na hora do pega pra capar.
Agora, que esse debate, mais cedo ou mais tarde,
terá que ser feito, disso eu não tenho dúvida. Está se esgotando a validade da
política atual de deixar como está para ver como é que fica; ou, simplesmente,
ir empurrando com a barriga, porque há, em jogo, interesses de toda ordem.
Aliás, em algumas cidades – poucas, é verdade –
experiências novas estão em andamento objetivando segurar o preço e melhorar a
qualidade do serviço. E não há segredo: A única maneira de segurar o preço e
melhorar o serviço é o poder público assumir o ônus das gratuidades que
concede.
Do contrário, salvo alguma ideia criativa que ainda
está para surgir, não tem pra onde correr. Essa ideia, porém, não surgirá do acaso.
Terá que ser buscada, promovida, estimulada,
procurada. Daí porque disse e vou repetir: Esse debate, mais cedo ou mais
tarde, terá de ocorrer.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
0 comentários:
Postar um comentário