Por Flávio Rezende *
A vida tem inserido em meu cotidiano uma série de
situações que levam inevitavelmente ao contato com outras pessoas. A profissão
que escolhi e segui é facilitadora do contato humano e do bate papo fácil.
Este contato constante com outros seres desagua numa
avalanche de circunstâncias, que, em alguns casos, me remetem a uma reflexão a
posteriori do encontro oral com determinadas pessoas.
Algumas dessas reflexões são prazerosas e,
geralmente acontecem quando o interlocutor expressa em seu ponto de vista uma
oratória bonita, um domínio de palavras e de expressões, aliados a trejeitos
corporais que me seduzem e me causam extremo prazer interior.
De outro lado, também fico refletindo depois de
algumas conversas sobre o porquê de algumas pessoas serem tão radicais em
alguns pontos de vista totalmente opostos aos meus.
Às vezes, por exemplo, encontro alguns seres que se
colocam radicalmente contra essa coisa de ajudar o próximo. Os esotéricos ou
exotéricos dizem que se a pessoa tem um karma a pagar, a cumprir, etc., ela
precisa caminhar com suas próprias pernas, que uma pessoa ajudar a outra, é
como se atrasasse seu aprendizado necessário. Tem ainda aqueles que dizem que
não se deve ajudar o outro, pois isso cria uma dependência e a pessoa fica
viciada naquilo e não quer mais trabalhar.
É um assunto difícil e noto que algumas pessoas
ficam muito aborrecidas quando digo que os grandes mestres da humanidade
realçaram a importância de servir ao próximo, ajudando de muitas maneiras, vide
Jesus e Sai Baba que curavam, atendiam pedidos diversos e, até hoje, no serviço
humanitário invisível que prestam a nossos irmãos, continuam a facilitar vidas
e atender pedidos.
Não creio que uma mão amiga, uma ajuda material
esporádica, um esforço no encaminhamento de um emprego, uma inserção de seres
em ambientes culturais e sociais, entre muitas outras ajudas, seja uma
interferência no karma e nem que crie dependência. Isso pode acontecer com
algumas pessoas e em alguns casos, mas prefiro acreditar que estes casos são as
exceções.
De toda maneira reflito muito sobre tudo isso,
buscando compreender os demais, sempre com educação e atenção, sabendo que lá
na frente, posso também passar a pensar igual a eles, pois não acredito em
definições engessadas e em verdades absolutas, preferindo seguir minha intuição
e aquilo que me deixa feliz no momento.
A própria existência vai nos proporcionando uma análise
mais apurada das coisas, quando a vida, nos coloca exatamente no lado oposto.
Tempos atrás eu defendia o Partido dos Trabalhadores em todas as situações.
Custava-me crer que pessoas como Delúbio Soares, Zé Dirceu, Genoíno e tantos
outros, podiam ter o mínimo de envolvimento com falcatruas e influências
capitalistas. Hoje, mesmo que isso possa acontecer no nível de ideologia, como
que para manter um grupo no poder, já colhi elementos suficientes para crer que
no PT tem muitos malfeitores sim.
Diante disso, já não defendo o PT e prefiro ter uma
posição política distanciada de partidos. Com o envolvimento do PT em corrupção
se nivelando a todos os outros já mestres no assunto, morreu para meu ser a
revolução partidária. Agora observo as pessoas e, até prova em contrário, vou
botando fé em um ou outro, neste rareado mar de peixes, piranhas e tubarões.
E assim sigo, tentando compreender as nossas
diferenças, mudando quando acho que minha antiga posição caducou e, tentando me
sentir bem diante de uma pessoa que fala bem, se expressa bem e, têm no
conteúdo de sua ideologia, as boas falas e gestos de uma alma verdadeiramente
boa.
*É escritor, jornalista e
ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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