Por Flávio Rezende*
Foto: divulgação
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De vez em quando escuto algumas pessoas tecerem
comentários muito pesados com relação aos flanelinhas e lavadores de parabrisas
de veículos. A grande maioria afirma que o dinheiro pago é direcionado para o
uso de drogas.
Não vou aqui desmentir essa informação, pois, sou consciente
que muitos realmente utilizam drogas. O questionamento que faço é na seguinte
direção: o uso de drogas não é exclusivo destes dois grupos de pessoas. As
drogas são usadas por médicos, juízes, jornalistas, advogados, artistas,
políticos e, fico me perguntando se as pessoas deixam de utilizar alguns desses
profissionais por causa disso.
O que os flanelinhas e lavadores de parabrisas
prestam na verdade é um serviço. Em todas as minhas andanças pela cidade,
observo que se você não pagar a lavagem do vidro, eles ficam na deles,
igualmente os flanelinhas na vigilância dos carros. Aquelas histórias que eles
ameaçam, dizem isso e aquilo, na minha vivência são exceções. O que observo são
eles agradecendo a Deus a moedinha dada e, nunca, ao deixar de retribuir um
serviço ofertado por eles, tive como resposta uma cara feia ou algo agressivo.
Profissionais com paletó, jaleco branco e paramentos
diversos também são maus. Sabemos de muitos que esculhambam quando não são bem
pagos, que denigrem àqueles que não os remuneram, então, por qual motivo, só os
flanelinhas e limpadores de parabrisas são tidos como intrusos, drogados e
oferecidos?
Preste atenção, ele joga a água, você faz um sinal de não e a grande maioria limpa e sai numa boa, sem problemas. Ele é um prestador de um serviço muito barato, faz o que sabe por apenas moedinhas quase sem valor monetário, às vezes até um sorriso, um legal, deixam eles felizes.
Tenha um olhar mais humano para estas pessoas. Claro
que devemos torcer para que encontrem uma ocupação mais rentável, menos exposta
ao sol e a execração pública. São tratados como escórias por pessoas em sua
maioria dentro de seus carrões com ar-condicionado e muito dinheiro no bolso.
Muitos desses, os verdadeiros bandidos, que roubam milhões desviando recursos
da saúde e da educação.
Jesus sabiamente repetia que julgar é sempre uma
atitude perigosa. Ali, naquela situação, podia e pode ainda estar você. Nós não
sabemos se aquele que está oferecendo um serviço buscou emprego antes, se está
ali por ter sido preterido em várias tentativas de ocupação. Ele precisa fazer
algo, não pode ficar sem comer, esse trabalho é o possível neste momento de sua
vida.
Profissionais liberais também se oferecem via
colunas sociais, comerciais de rádio e de TV e utilizam o dinheiro que você
remunerou o seu serviço para cheirar cocaína e manter relações sexuais com
menores. A diferença é que eles têm um teto e um vidro fumê para manter a
privacidade, mas, na essência do espírito da coisa, neste momento, os que assim
procedem, são ou não são iguais?
*É escritor, jornalista e
ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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