A Universidade Federal do Rio Grande do Norte estava sob a
batuta de Diógenes da Cunha Lima, no final dos anos 70 e início dos 80, quando
o professor Deífilo Gurgel, então titular da cadeira de Folclore, encaminhou ao
magnífico reitor petição solicitando que sua jornada de trabalho docente fosse
duplicada. Contava ganhar mais tempo e condições para empreender pesquisas
sobre as manifestações culturais do Rio Grande do Norte. O inusitado, porém, é
que o pedido foi elaborado em versos. Começava assim: Um poeta-professor/ de
folclore, entre rimas,/ pelo presente requer/ a Vossa Magnificência/ que,
ouvidos seus assessores/de Letras, Artes, Ciências/transforme em 40 horas/a
carga horária mensal/do requerente, uma vez/que a carga horária atual/não lhe
permite sequer/a aquisição periódica/das mais novas edições/da ciência
folclórica/quanto mais (o que é mais grave),/viajar às diferentes/ regiões do
nosso Estado,/para pesquisas urgentes/e inadiáveis, no campo/da cultura
popular/, onde muita coisa existe/ ainda por pesquisar (…)
Interessante é que o reitor, também poeta, ao receber o pleito
despachou igualmente em versos: A nossa universidade/do Rio Grande do
Norte,/para crescer e ser forte,/carece de humanidades./Ama a ciência, a verdade,/melhor
tecnologia,/mas tem lazer, poesia,/folclore? Necessidade./Com urgência, já se
vê,/para deferir o pleito/vá o processo perfeito/à douta CPPD.
A Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), órgão
competente para se pronunciar sobre a matéria, aprovou o pedido do
professor-poeta. O processo então chegou às mãos do diretor do Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes, ao qual estava vinculado o Departamento de
Artes, responsável pela disciplina de Folclore. Dirigido ao Departamento de
Pessoal para decisão final, o despacho de Lúcio Teixeira dos Santos, diretor do
CCHLA, foi também em versos:
Trabalhar pelo folclore/eis a causa que me anima/pelas suas
descobertas/que nos tira da rotina,/quisera isto expressar/nas mais sugestivas
rimas./Mas como não sou poeta/e nem faço poesia/envio, com alegria,/este
processo legal/para que se vá depressa/ao setor de pessoal.
Ao saber do encaminhamento poético que o processo tomou,
Diógenes alegrou-se e sugeriu que o desfecho também fosse assinalado em versos,
o que aconteceu: Autorizo o pagamento/sem falar em poesia:/do reitor,
deferimento./Assina: Maria da Guia/Diretora de Pessoal.
Anos mais tarde, em 2008, o referido processo foi publicado em
livreto com o título Um poema faz processo. Imagine quem escreveu o epílogo:
Ilustre amigo Diógenes/o pedido que lhe fiz/quando você foi reitor/teve um
desfecho feliz./Rendeu-me um vasto saber/didático-cultural/pelas pesquisas que
fiz/do sertão ao litoral (…)/Receba, pois, nestes versos/escritos assim ao
léu/os mil agradecimentos/de Deífilo Gurgel.
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