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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Poema em processo


A Universidade Federal do Rio Grande do Norte estava sob a batuta de Diógenes da Cunha Lima, no final dos anos 70 e início dos 80, quando o professor Deífilo Gurgel, então titular da cadeira de Folclore, encaminhou ao magnífico reitor petição solicitando que sua jornada de trabalho docente fosse duplicada. Contava ganhar mais tempo e condições para empreender pesquisas sobre as manifestações culturais do Rio Grande do Norte. O inusitado, porém, é que o pedido foi elaborado em versos. Começava assim: Um poeta-professor/ de folclore, entre rimas,/ pelo presente requer/ a Vossa Magnificência/ que, ouvidos seus assessores/de Letras, Artes, Ciências/transforme em 40 horas/a carga horária mensal/do requerente, uma vez/que a carga horária atual/não lhe permite sequer/a aquisição periódica/das mais novas edições/da ciência folclórica/quanto mais (o que é mais grave),/viajar às diferentes/ regiões do nosso Estado,/para pesquisas urgentes/e inadiáveis, no campo/da cultura popular/, onde muita coisa existe/ ainda por pesquisar (…)

Interessante é que o reitor, também poeta, ao receber o pleito despachou igualmente em versos: A nossa universidade/do Rio Grande do Norte,/para crescer e ser forte,/carece de humanidades./Ama a ciência, a verdade,/melhor tecnologia,/mas tem lazer, poesia,/folclore? Necessidade./Com urgência, já se vê,/para deferir o pleito/vá o processo perfeito/à douta CPPD.

A Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), órgão competente para se pronunciar sobre a matéria, aprovou o pedido do professor-poeta. O processo então chegou às mãos do diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, ao qual estava vinculado o Departamento de Artes, responsável pela disciplina de Folclore. Dirigido ao Departamento de Pessoal para decisão final, o despacho de Lúcio Teixeira dos Santos, diretor do CCHLA, foi também em versos:

Trabalhar pelo folclore/eis a causa que me anima/pelas suas descobertas/que nos tira da rotina,/quisera isto expressar/nas mais sugestivas rimas./Mas como não sou poeta/e nem faço poesia/envio, com alegria,/este processo legal/para que se vá depressa/ao setor de pessoal.

Ao saber do encaminhamento poético que o processo tomou, Diógenes alegrou-se e sugeriu que o desfecho também fosse assinalado em versos, o que aconteceu: Autorizo o pagamento/sem falar em poesia:/do reitor, deferimento./Assina: Maria da Guia/Diretora de Pessoal.

Anos mais tarde, em 2008, o referido processo foi publicado em livreto com o título Um poema faz processo. Imagine quem escreveu o epílogo: Ilustre amigo Diógenes/o pedido que lhe fiz/quando você foi reitor/teve um desfecho feliz./Rendeu-me um vasto saber/didático-cultural/pelas pesquisas que fiz/do sertão ao litoral (…)/Receba, pois, nestes versos/escritos assim ao léu/os mil agradecimentos/de Deífilo Gurgel.
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