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domingo, 22 de janeiro de 2012

O nome do bairro

Bira Viegas

No ano de 1994, transferido pela repartição pública em que trabalho, deixo Natal e fixo residência em Jardim do Seridó.

Na antiga ‘Conceição dos Azevedo’ tão logo cheguei tive a grande honra de conhecer – e privar da amizade – do já falecido ex-prefeito Manoel Paulino dos Santos Filho, uma das maiores lideranças política e empresarial do Seridó do RN.

Na época, ‘Seu Manoel’, como era carinhosamente chamado por seus amigos e conterrâneos exercia pela quarta vez o cargo de prefeito.

Altamente criterioso no trato da coisa pública, sempre realizou grandes obras em benefício da população jardinense mesmo enfrentando limitações financeiras tão comuns aos pequenos municípios nordestinos.

De espírito bonachão, sempre prestativo aos pedidos de quem o procurava, tinha um grande senso de humor, o que o fez protagonista de vários e vários ‘causos’.

Pessoalmente fui testemunha de alguns. E aqui relato um deles.
Religiosamente nas manhãs das quintas-feiras Seu Manoel atendia em seu gabinete no antigo prédio da prefeitura os seus conterrâneos mais necessitados.

Pedidos eram feitos e quase sempre o ‘Prefeito dos Pobres’ atendia-os de pronto. Era um remédio para um. Uma passagem de ônibus para outro. Uma cesta básica ou sacos de cimento.

E é justamente sobre sacos de cimento o que agora relato.

Um cidadão entra no gabinete e se dirige ao senhor prefeito:
- Bom dia Seu Manoel.
- Bom dia meu jovem. Você é filho de quem?
- Sou filho de Fulano de Tal.
- Conheço! Pessoa excelente, fantástica (Manoel Paulino adorava usar estes adjetivos). Mas o que é que você esta querendo deste seu velho amigo?
- Seu Manoel eu vou me casar e estou terminando de fazer a minha casinha, e como não tenho condições de colocar cerâmica, eu vim lhe pedir uns sacos de cimento para ‘puxar o piso’.
- E de quantos sacos de cimento você precisa? Pergunta o prefeito.
- Acho que de uns 10 sacos.
- Dez? É uma mansão. Vou ver se lhe arranjo uns cinco. Está bom?
- Está bom demais. Já é uma grande ajuda.
Neste instante Seu Manoel resolve perguntar o local onde o rapaz estava construindo sua casa.
- É lá no bairro do Berra-Bode. Responde o cidadão.
Foi aí que o grande líder da política jardinense foi à loucura, pois detestava ouvir alguém chamar: bairro do Berra-Bode.
- PQP... Você escutou Ubirajara? Nesse bairro onde fiz obras e mais obras eu troquei o horroroso nome que esse rapaz acaba de dizer para “Alto da Bela Vista”. E me aparece esta marmota aí chamando de... de... de Berra-Bode. Berra-Bode é a pqp. Desabafou seu Manoel.
Em seguida, se virou para o solicitante dos sacos de cimento e sentenciou:
- E tem mais: Aqui não tem mais nenhum saco de cimento. Tenha um bom dia!

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