Bira Viegas
No ano de 1994, transferido pela repartição pública
em que trabalho, deixo Natal e fixo residência em Jardim do Seridó.
Na antiga ‘Conceição dos Azevedo’ tão logo cheguei
tive a grande honra de conhecer – e privar da amizade – do já falecido
ex-prefeito Manoel Paulino dos Santos Filho, uma das maiores lideranças
política e empresarial do Seridó do RN.
Na época, ‘Seu Manoel’, como era carinhosamente
chamado por seus amigos e conterrâneos exercia pela quarta vez o cargo de
prefeito.
Altamente criterioso no trato da coisa pública,
sempre realizou grandes obras em benefício da população jardinense mesmo
enfrentando limitações financeiras tão comuns aos pequenos municípios
nordestinos.
De espírito bonachão, sempre prestativo aos pedidos
de quem o procurava, tinha um grande senso de humor, o que o fez protagonista
de vários e vários ‘causos’.
Pessoalmente fui testemunha de alguns. E aqui relato
um deles.
Religiosamente nas manhãs das quintas-feiras Seu
Manoel atendia em seu gabinete no antigo prédio da prefeitura os seus
conterrâneos mais necessitados.
Pedidos eram feitos e quase sempre o ‘Prefeito dos
Pobres’ atendia-os de pronto. Era um remédio para um. Uma passagem de ônibus
para outro. Uma cesta básica ou sacos de cimento.
E é justamente sobre sacos de cimento o que agora
relato.
Um cidadão entra no gabinete e se dirige ao senhor
prefeito:
- Bom dia Seu Manoel.
- Bom dia meu jovem. Você é filho de quem?
- Sou filho de Fulano de Tal.
- Conheço! Pessoa excelente, fantástica (Manoel
Paulino adorava usar estes adjetivos). Mas o que é que você esta querendo deste
seu velho amigo?
- Seu Manoel eu vou me casar e estou terminando de
fazer a minha casinha, e como não tenho condições de colocar cerâmica, eu vim
lhe pedir uns sacos de cimento para ‘puxar o piso’.
- E de quantos sacos de cimento você precisa?
Pergunta o prefeito.
- Acho que de uns 10 sacos.
- Dez? É uma mansão. Vou ver se lhe arranjo uns
cinco. Está bom?
- Está bom demais. Já é uma grande ajuda.
Neste instante Seu Manoel resolve perguntar o local
onde o rapaz estava construindo sua casa.
- É lá no bairro do Berra-Bode. Responde o cidadão.
Foi aí que o grande líder da política jardinense foi
à loucura, pois detestava ouvir alguém chamar: bairro do Berra-Bode.
- PQP... Você escutou Ubirajara? Nesse bairro onde
fiz obras e mais obras eu troquei o horroroso nome que esse rapaz acaba de
dizer para “Alto da Bela Vista”. E me aparece esta marmota aí chamando de...
de... de Berra-Bode. Berra-Bode é a pqp. Desabafou seu Manoel.
Em seguida, se virou para o solicitante dos sacos de
cimento e sentenciou:
- E tem mais: Aqui não tem mais nenhum saco de
cimento. Tenha um bom dia!
0 comentários:
Postar um comentário