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domingo, 27 de novembro de 2011

Manual da paz


A paz é um tema recorrente na minha rotina de bate-papos despretensiosos, a convite de amigos. Parece assunto grave e urgente, mas no fundo é suave e atemporal, exceto quando o arrastamos para a lista das preocupações utilitárias, sempre balizadas pela ilusão da concretude e pela expectativa de um ganho imediato. Nesse caso, ele surge cercado pela esperança (e, consequentemente, pela dúvida e a aflição) de que alguém nos apresente a fórmula infalível para a realização de nosso desejo.

Isso é prato cheio para os vendedores de fantasias e, quase sempre, frustração garantida para quem, no primeiro momento, irá encantar-se com a praticidade de algum passo a passo. Uma armadilha da qual, infelizmente, não escaparemos enquanto imaginarmos que a paz é quando as coisas acontecem do jeito que almejamos.

Dias atrás fui surpreendido pelo pragmatismo do título dado a um bate-papo comigo. “O que fazer para alcançar a paz”, garantia o rótulo. Pensei no tamanho da decepção que eu iria causar aos meus amigos, mas deixei fluir. Nem sei como consegui usar os 45 minutos destinados à exposição (E é preciso? A tagarelice é própria da natureza da mente, especialista em complicar coisas simples e diretas). Mas a verdade é que, em vez do manual prometido pelo título da palestra, minha mensagem poderia ser resumida em duas frases breves: “O que fazer para alcançar a paz? Nada.”

Assim mesmo. Nadica de nada. A maioria dos eventos da vida pedem apenas que os aceitemos e saboreemos, a fim de que possam seguir os seus cursos e completar os seus ciclos. São “problemas” que se “resolvem” com mais rapidez e eficácia se não os complicamos com a interferência de nossos caprichos.

A paz é um dos exemplos mais expressivos dessa obviedade. Toda vez que nos esforçamos para alcançá-la, estabelecemos um conflito. Isso vale da intimidade das relações familiares às ações espetaculares das organizações e estados guerreiros, sempre prontos a promover carnificinas para salvar homens e implantar a paz. Eu e você conhecemos o resultado dessa iniciativa em nosso círculo íntimo. O mundo inteiro conhece os efeitos das cruzadas e das guerras de conquista do passado e, com certeza, ainda conviverá por muitas décadas com as consequências amargas das incursões militares das atuais potências em nome da paz.

O mundo objetivo é expressão de nossa subjetividade. As guerras externas refletem nossa intensa guerra interior, em meio à nuvem das formas-pensamento. Fazer nada, acalmar-se, é a única saída para que elas se dissolvam, permitindo-nos ver e fruir a paz natural das profundezas da vida. Sem indivíduos conflituosos, não haverá mundo em conflito.

*Jomar Morais também escreve para a coluna Plural, às terças-feiras no Novo Jornal
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