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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A voz que não quer calar: As razões que levaram Jurandy Nóbrega a sair da 94 FM

Jornalista Jurandy Nóbrega pede demissão da Rádio 94 FM, onde trabalhava há 13 anos, por se sentir censurado: foi proibido de levar ao seu programa a vereadora Júlia Arruda, presidente da CEI dos Contratos


Foto: Humberto Sales/NJ
“O QUE VI, ouvi e não escrevi”. Esse é o título de um livro que o jornalista Jurandy Nóbrega, 66, dos quais 50 dedicadas à notícia, talvez nunca escreva. Por censura prévia da própria família, temerosa por sua segurança. E ele, que defendeu a ditadura militar no passado, hoje, em plena vigência da liberdade de expressão no Brasil, acaba de pedir demissão da rádio 94 FM por se sentir censurado.

Jurandy Nóbrega diz que é difícil conviver com o cerceamento à sua independência de escrever e entrevistar o que e quem quiser. Sem papas na língua, o jornalista político mais polêmico dessas terras potiguares nasceu na Paraíba. O pivô de sua saída da rádio 94 FM foi uma entrevista que pretendia fazer com a vereadora Júlia Arruda, presidente da Comissão Especial de Investigação que apura os contratos de aluguel da Prefeitura de Natal.

Um deles, a do Novotel, envolve Haroldo Azevedo, dono da 94 FM. “Não se deve misturar interesses políticos, religiosos e comerciais com a concessão de rádio e tevê”, critica. Jornalista acostumado a dizer o que quer, Jurandy Nóbrega considera – se censurado pela rádio 94 FM onde trabalhou por treze anos até a última segunda-feira, quando deixou de apresentar seu programa matinal às 7h.

Foi o primeiro programa de rádio-jornalismo em uma rádio FM em Natal. Jurandy Nóbrega comenta que, em seu programa, havia uma lista de quem podia e quem não podia ser entrevistado. “Como bom jogador sempre procurei não contrariar meu técnico”, compara sua posição em relação ao dono da emissora. Nunca falou mal do ex-governador Geraldo Melo. “Porque ele é um homem de bem” e, também, porque ele é amigo de Haroldo Azevedo, que foi seu suplente de senador.

De um certo tempo para cá, chegou a, constrangido, não convidar determinadas pessoas que gostaria de entrevistar no seu programa. Sobre o recente episódio da CEI dos Contratos na Câmara, queria convidar Júlia Arruda, presidente da Comissão, porque já havia entrevistado Júlio Protásio, relator.

Antes de Haroldo Azevedo viajar para Lisboa, Jurandy Nóbrega explica que entrevistou-o e ele citou a vereadora dizendo que esperava dela uma ação como magistrada. “Existem vários outros contratos sendo investigados” e Jurandy queria saber de Júlia Arruda (PSB) como estavam as investigações de forma geral.

Na segunda-feira, ligou para a jornalista Elaine Vládia, assessora de comunicação da vereadora, para marcar a entrevista. Depois, ele recebeu uma ligação na rádio e a interlocutora se identificou como Elaine.

E segue o seguinte diálogo: — “A vereadora Júlia vem dar entrevista no meu programa, quando?” – questionou Jurandy.

— Qual é a Elaine que você pensa que está falando? – perguntou a voz do outro lado.

— Com (Elaine) Vládia, assessora de Júlia – respondeu o jornalista.

— Aqui é Elaine, diretora da Rádio Cidade, filha de Haroldo (Azevedo). Você vai trazer essa mulher aqui na rádio de meu pai? Tá pensando o quê? – indagou a voz do outro lado.

Jurandy Nóbrega ressalta que ficou sem entender a restrição à vereadora Júlia Arruda porque antes já havia entrevistado o vereador Júlio Protásio, relator da CEI dos Contratos sem restrição. Além disso, também não houve censura aos nomes do secretário de Saúde do Estado, Domício Arruda, tio de Júlia, nem ao pai da vereadora, Leonardo Arruda.

Aponta ainda que na segunda-feira, leu uma nota em seu programa, solidarizando-se ao jornalista Cassiano Arruda Câmara, que no sábado passado foi assaltado enquanto fazia compras em uma padaria no bairro de Tirol. “Eu atribuo que a tempestade foi essa”, diz, mencionando que Haroldo Azevedo também não gosta de Cassiano e seu nome é um dos proibidos na rádio.

A lista de personas non gratas na Rádio 94 FM, segundo Jurandy Nóbre, inclui os vereadores Sargento Regina (PDT), Assis de Oliveira (PR), George Câmara (PC do B), Raniere Barbosa (PRB), Adão Eridão (PR). “Coincidência ou não, todos
vereadores que fazem parte da oposição à prefeita Micarla (de Sousa)”.

Há restrições ainda a pessoas do governo Rosalba Ciarlini como o procurador-geral Miguel Josino (O escritório de advocacia do procurador defendeu Flávio Azevedo, irmão de Haroldo e seu desafeto em causas jurídicas, disse Jurandy),  a mesma forma que Ezequias Pegado e Thiago Cortez secretário de Justiça do estado.

“Os membros do MP, que combatem a sonegação fiscal, estão proibidos de falar na rádio Cidade”, principalmente depois que o MP entrou com uma ação contra ele (Haroldo) e um oficial de justiça foi à rádio intimá-lo e ele estava em Lisboa.

“Bem, já que é assim, você comunica a seu pai que a partir de amanhã (terça-feira, 20 de setembro) eu não faço mais o programa na rádio dele”, disse Jurandy Nóbrega. O que mais deixou o jornalista triste é que não houve ponderação e nem sequer um telefonema de Azevedo.

“Os empresários concessionários de rádio e tevê não são donos, são concessionários. A concessão é pública”, pondera.  E critica que aqui no Rio Grande do Norte essa prática faz parte do cotidiano por  falta de um órgão fiscalizador nos meios de comunicação.

Jurandy Nóbrega cita o caso de uma conhecida emissora de rádio de frequencia modulada em Natal, cujo nome ele prefere não revelar, que deixou de ter sua concessão negociada porque o empresário controlador não abriu mão de R$ 250 mil.

Um grupo do interior de São Paulo ofereceu R$ 8 milhões só pela concessão. E o empresário queria R$ 8 milhões e 250 mil. E a rádio, segundo Jurandy Nóbrega, está em uma das áreas de maior valor imobiliário da cidade.



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