por Marline Negreiros*
jornalista
Me encontro em um lugar onde já fui e não sei onde vou parar. Ventos aflitos balançam as janelas dos meus eus libertos, milhares em busca de um não sei o quê. Erros. Parágrafos. Espaços. Dias de colunas em branco. O que isso quer dizer? Já não vamos mais nos encontrar? Nos abandonamos? E-mails sem assunto. Palavras soltas. Calendários riscados. Mentes em chama. Neurônios e sentimentos dividem o mesmo espaço.
Escrevo para me encontrar e ser achada. Caros leitores, sinto que a mistura entre a alegria de ver a chuva tocando a secura do meu seridó e a volta sorrateira do sol me fizeram voltar. A liberdade das palavras bateram novamente à minha porta. Crônicas. Contos de mim, de ti, de alguém distante, de nós todos.
Manchas dos meus pensamentos, dos seus desejos, das nossas ilusões. A mancha marrom do Rio Potengi invandindo o mar da praia do Forte mostra com perfeição as artes da natureza. Nem a inquietude quieta do mar é imune às manchas da vida. Mudança de cores, mistura de tons. Texturas da areia, das paredes ruídas pelo tempo, das pedras, da ferrugem nos brinquedos do parque. Meus olhos vagueiam entre paisagens, pessoas, lugares, formas, construções como se quisessem fixar aquilo tudo e revelar depois. Difícil missão.
A inspiração parece me fazer companhia e me largar diversas vezes. Amiga displicente, grande mestra dos meus dias e presença certa em tempos de angústia. - Fica só mais um pouco, frase que gostaria de dizer a inspiração se ela pudesse me ouvir. Falando assim, lembrei de quantas vezes já quis dizer algo a alguém que podia ouvir e não disse. Bobeira minha, sua, nossa. Por que não falar? Colocar logo todos os acúmulos e pedidos para fora.
E assim fica a seqüência... a inspiração decide se fica e as frases vão tomando forma. Indo por caminhos, vezes confusos, outras com nexo. “Aparícias”, “amostradas” como dizem, querendo aparecer a qualquer custo para mostrar que ainda existem mesmo em secas de inspiração. Enchentes de vontade, desejo de continuar. Seguir os trilhos das palavras para completar a missão. Compromisso com o sonho antigo de fazer versos, textos e comunicar não só fatos, mas fotos escritas dos retratos diários. Devaneios. Mensagens. Segredos. Sinais.
O sol revela-se ainda tímido entre nuvens cinzas de algodão. O sentimento de ter tido a companhia daquela inspiração sorrateira me acompanha na despedida de mais uma crônica. Sinto hoje, como nunca, a proximidade com aqueles que estão passando os olhos pelos meus escritos. Tenham um ótimo dia, de sol ou de chuva!
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