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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma cortina sem fim

--- Walter Medeiros* – waltermedeiros@supercabo.com.br

Nas manhãs ensolaradas que começam as minhas semanas costumo olhar em volta do ambiente, aproveitando a benesse do ar mais puro das Américas, o ar da nossa cidade, Natal, capital do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil. Por entre aquelas plantas dos canteiros centrais da estrada de Ponta Negra vejo os grupos de prédios que vão formando uma cortina, como costumam dizer os arquitetos nos seus estudos sobre o desenvolvimento urbano. São prédios prontos e habitados e prédios em construção, dos mais sofisticados aos mais simples, cada um com a sua elegância. Aí me vem aquela foto na memória, da estrada de muitos anos atrás, quando o caminho para o litoral sul era apenas uma estrada acanhada que servia a um reduzido número de veranistas. Para Pirangi, havia um ônibus que saía da rodoviária velha cedo da manhã e voltava no fim da tarde. Que tranqüilidade!

Esse meu pedaço é um detalhe da nossa cidade, tão pacata naquele tempo em que o seu maior edifício tinha cinco andares: o Edifício São Miguel, ali na Avenida Rio Branco, em frente ao Banco do Brasil, à época Mercado Municipal da Cidade Alta. Começaram a surgir os famosos arranha-céus, começando pelo Edifício 21 de Março. Depois veio o Salmar, na avenida Deodoro, o prédio do INSS e o Barão do Rio Branco. Nos anos setenta, chegou o Ducal Palace, em cujo Sky Terrace (17º andar) assistimos várias vezes o belo pôr-do-sol do rio Potengi. Dentre todos esses prédios, apenas o Edifício Salmar se destinava a residência. O crescimento horizontal da cidade ainda era o mais natural. Anos depois, com essa tendência, cheguei a Capim Macio, inaugurando, em 1989, o então Village de Latouche, construído em meio a poucos prédios, granjas e mato. Hoje quase não se vê mais terreno sem construção.

Mas essa cortina de edifícios que assola Natal chega à minha casa como assunto obrigatório, pelo menos en passant, pois Firmino Neto, um dos meus filhos, está concluindo Engenharia Civil e seu estágio se dá exatamente com a tarefa de acompanhar, participar e até conduzir em boa parte a construção de um prédio de vinte andares. Ele participa da obra desde o primeiro mato retirado pela terraplenagem e já está com todos os andares erguidos. Em meio a planilhas e notebooks – ferramentas naturais agora nos canteiros de obras – lá chega ele sempre com aquelas botas e, no carro, capacete e tudo que faz parte do seu trabalho. Ele é muito exigente consigo mesmo e com os outros, daí a certeza de que tão logo termine a construção daquele prédio estará pronto e diplomado para construir outras partes dessa longa cortina de concreto.

Não tenho tendência para morar em apartamento – embora não diga que dessa água não beberei – e ainda vivo as vantagens de morar em casa. Mas como anda rápido essa cortina, comparando-se àquele tempo em que Natal praticamente terminava na corrente próxima da Guararapes, hoje Midway e fui aluno do IFRN no ano em que se mudou para Morro Branco, em 1967, como Escola Industrial de Natal; em que a corrente das Quintas era o limite para entrarmos no rumo da Ponte de Igapó, a ponte de ferro, pois Monsenhor Walfredo não havia construído ainda aquela primeira ponte de concreto e Geraldo Melo não havia inaugurado a segunda ponte, duplicando aquela outra. Naquele tempo havia até uma música que dizia “Prédios tão grandes me invadem o coração / Telefonista, por favor, complete a minha ligação”. É o progresso. Para conviver melhor com ele, basta olhá-lo com os olhos do amigo médico e professor de Inglês Tarcísio Gurgel, principalmente no crepúsculo, no qual as luzes que anunciam a noite formam uma bela “Sky line”.   

*jornalista
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