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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os gatos do calçadão


--- Walter Medeiros* waltermedeiros@supercabo.com.br

Os gatos não povoam minha vida como povoam a vida de certas pessoas que talvez não soubessem viver sem eles ou, na ausência deles, enfrentassem desconforto e até depressão. Mas por onde passei encontrei gatos que deixaram recordações, mesmo mantendo uma distância proposital, que somente a natureza pode explicar. Criança, ainda, por conta das viagens do meu pai em meio às campanhas de saúde pública de erradicação da malária, findamos morando um tempo em Lagoa dos Gatos. 

Já era um começo. Depois das andanças pelo nordeste adentro, ao voltar para Natal moramos vizinho a minha tia Mariêta, que criava um belo gato chamado Dunga, lá nos idos dos anos sessenta. A convivência com ele, do alto dos meus dez a quinze anos, foi, no máximo, um alisado temeroso no seu dorso, cujo calor e maciez ainda lembro. Mas nunca pensei em criar um gato.

Naquele tempo os gatos que rodeavam meu ambiente eram aqueles das histórias em quadrinhos de Manda Chuva e Tom e Jerry. Os outros não me chamavam a atenção de nenhuma forma. O tempo foi passando sem maior presença dos gatos, embora tenha me aventurado na criação de um cachorro  Hopper, entre 1982 e 1987. Depois o que teve repercussão e observei foi aquele senhor que cuidava de dezenas de gatos  mais de cinqüenta -  no conjunto Candelária, em terreno no qual a comunidade findou construindo alguns equipamentos na tangente da rua Barão de Serra Branca, onde residia meu irmão Wellington . Aquele homem tem uma dedicação impressionante e depois partiu para plantar todos aqueles cajueiros que se vê no prolongamento da avenida Prudente de Morais, entre o Candelária e Cidade Satélite. Ele fez um grande bem à humanidade e a sua cidade. Outros gatos surgem na vizinhança, fazendo barulho e rasgando os sacos de lixo, mas tendo tratamento carinhoso dos seus criadores.

Agora, para manter a saúde em dia - apesar de certa indisciplina na agenda de freqüência à minha cardiologista, Dra. Graça Bandeira, que também atende a minha mulher, Graça, minha sogra, Dona Neusa, 84 anos, e meu sogro, seu Sebastião, 93  estou caminhando quase diariamente pelo calçadão da avenida Roberto Freire. Belos momentos, onde reencontro, chova ou faça sol, amigos como Risolete, João Nicolau e outros, com quem trabalhamos ou atuamos em muitas jornadas de décadas anteriores. Todos seguindo naqueles passos variados, compondo aquela paisagem tão bela e sonhada por muitos no mundo inteiro.

Pois aquela paisagem tem agora  não sei há quanto tempo  uma população imensa de gatos, que se criam à margem da cerca do Parque das Dunas, na área militar. Não tentei contá-los, mas são muitos: 
pretos, brancos, cinzas, amarronzados, de todos os tamanhos. Aqueles gatos fazem todos os gestos e poses que qualquer fotógrafo busca quando precisa incluir animais da espécie em seus trabalhos.

Mas eles têm um ritual diário que só percebe completamente quem passa no exato tempo em que Neide, uma mulher de seus cerca de 40 anos nunca fui bom em avaliar idade  passa com umas sacolas distribuindo comida e água para todos eles. Trata-se de um encontro diário que aqueles felinos esperam, com certeza, haja vista a reação que têm quando sentem, de longe, a sua aproximação. Eles se movimentam, chegam e recebem próximo a sua tocas pequenas porções de comida e pequenos recipientes com água. É uma cena do cotidiano que merece observação; um compromisso humano daquela mulher, que os mistérios da vida vez por outra fazem aparecer à nossa frente.

*Jornalista
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