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domingo, 8 de agosto de 2010

"O Majó Menino emudesceu!"

Orlando Rodrigues
Jornalista

Com a morte de João Cesino de Medeiros Filho, o Umari perde seu grande e ultimo historiador oral. Mas, como havia prometido ontem, resgato a saga do Majó Menino que se fez homem sem jamais deixar de ser criança.

Apenas cresceu no tamanho e saber.

Do alto de seu mais de um metro e oitenta de altura, corpo atletico, espigado, vincado pelo tempo na dura lida diária no campo, o pai de Maria Rosa e Rosa Maria debulha casos e causos que tem tudo a ver com o ambiente em que nasceu, cresceu e viveu seus mais de 80 anos.

Vivo ainda fosse, estaria, com certeza, neste momento, na feira semanal de Caicó, como ha duas semanas, nos deliciando com as narrativas que seguem-

- O Umari, nos tempos do tio Eloi Cesino (hoje pertence a João Pericio da Nóbrega, o João Baé) tinha até campo de aviação, pois um genro dele, Wilton, casado com Santinha, a mulher mais bonita do Mundo, era piloto de avião e costumava vir aqui com a família.

Quando o teco teco chegava era uma festa só, ninguém trabalhava, corriam todos para ver o bicho.

Sentado no peitoril do extenso alpendre da casa sede do Umari, atualmente pertencente ao seu tio Dadá (João Baé), Majó João Menino é o centro das atenções.

Lembra que era forte a influência de Cosme Pereira da Costa, bisneto do velho Tomaz de Araújo Pereira, o primeiro, seu tataravô, sobre a filharada, o que era muito natural na época. O casamento desfeito da filha menina moça Ana Mimosa com um rapaz seu primo da Fazenda Alegre, nas encostas da Serra do Samanaú, por um arranjado de ultima hora com o afilhado Francisco Antonio de Medeiros, moço pobre, filho de João Damasceno Rocha e Maria Joaquina dos Prazeres, moradores da Villa de Santa Luzia, na Paraíba, daria uma guinada no entrelaçamento de famílias.

- Naqueles tempos, as mulheres se casavam meninas ainda, brincando de bonecas, sem penugens ainda. Mas entrava na faixa de casar. Foi exatamente o que aconteceu com Ana Mimosa, pouco mais de dez anos de idade.Ela havia prometida a um jovem parente e jah estava de casamento marcado.

O historiador do Umari revela o desfecho, quando Cosme Pereira vai a feira de Caicó, na época, Villa Nova do Príncipe, por decreto de Imperial de Emancipação Política em 3l de julho de l790, sendo informado de que o futuro genro comprara tecidos fiados em sua loja no valor de duzentos mil reis.

- A conta é recente, o moço bom pagador, muito credito na praça, mas…

O dono do Umari paga tudo e, contrariado, a casa torna.Manda chamar o noivo, morador distante, e prega-lhe um duro sermão.

- Eu quero lhe comunicar que não tenho filha donzela para esposar cabra que compra fiado no comercio.

O jovem mancebo, forte como um touro e de personalidade marcante como os demais Araujo Pereira, despeja as duzentas moedas trazidas em um gogó de ema curtido ( bolsa comum usada na época ) sobre a mesa do ex-futuro sogro e desabafa em tom áspero e firme -

- Eis aqui o seu quinhão, se mal de lhe devo, e sim , ao mascateiro, e vá pro inferno com a sua filha e tudo mais que lhe é de direito!

Rodopia sobre o par de botas de couro e desaparece para sempre.

Casamento desfeito com o topetudo, a festança, não!

Teria que acontecer de qualquer jeito, a data marcada está em cima, e o Coronel Cosme Pereira não poderia jamais desapontar os convidados.

Majó João Menino, voz mansa, mas, grave, ressalta -

- Cosme na mesma hora sela o alazão e ganha as veredas em direção a Santa Luzia, quase dez léguas de distancia. Bate a porta do cumpadre João Damasceno Rocha.

– Vim aqui acertar o casamento de minha filha Ana Mimosa com o seu filho Francisco, meu afilhado. E é pra já!

O pobre homem fica perplexo com o que acabara de ouvir. Mas, o fazendeiro e cumpadre insiste, convencendo-o, alegando que o

afilhado era, de fato, o genro que tanto procurava.

Acertou em cheio, pois o afilhado-genro não lhe decepcionaria. Aumentou a prole do patriarca do Umari e ainda revelou-se um astuto e homem de negócios e político, inclusive, assumindo a Prefeitura de Caicó.

Um pouco dessa surpreendente e feliz união de Ana Mimosa e Chico Antonio está fincada na parede da sala de visitas do casarão centenário do Umari.

Encravada em fotografias em pedra mandadas esculpir pelo bisneto João Pericio da Nobrega, o Baé.

No momento, Tio Dadá (como era carinhosamente tratado por Majó João Menino, filho de sua irmã Hermelinda, casada com João Cesino de Medeiros, ambos falecidos ) luta pela vida, aos 96 anos, na casa da filha Nitinha, em Caicó.

Claro, que ainda percebe e entende muita coisa, menos que seu sobrinho dos mais queridos, maior amigo do seu filho Novo Baé, partiu antes dele.

Para sempre!

Majó João Menino, primo irmão da minha família que arranquei a forceps do Umari, morreu, mas ainda tem muita historia para contar.

E, como sei de muitas delas, prometo resgatá-las!


> Retirado do Blog O Caboré (com adaptação de digitação)
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