Por Laíse Santos Cabral de Oliveira
Psicóloga - Casa Durval Paiva
CRP 17-3166
Diante da
realidade de que sempre tem um próximo paciente para atender, de que há alguém
precisando de um serviço imediato, os profissionais da saúde costumam deixar de
lado as suas emoções e sentimentos para conseguir atender ao próximo. Porém,
essas emoções e sentimentos vão sendo acumulados e o luto não elaborado pode
transbordar, afetando diretamente na vida pessoal e profissional, interferindo
na capacidade de compaixão e investimento emocional do profissional.
Desde o
momento do pré-diagnóstico até a cura ou a morte, a tríade
paciente-família-equipe enfrenta um processo de perdas significativas, que vai
da perda de controle como sinal de impotência, perda da saúde, da privacidade,
até a perda da vida. Todas elas exigem do ser humano um processo de elaboração
do luto, ou seja, um processo de elaboração de uma perda significativa, normal
e esperada, mas que envolve um estado emocional distinto do anterior.
Um dos
aspectos mais dolorosos para os profissionais que trabalham na área da
oncologia infantil, ou do adoecimento em geral, é aprender a aceitar a morte do
paciente e lidar com a perda. Quando uma criança morre, vivenciamos a
interrupção do ciclo da vida, pois culturalmente aprendemos que o natural é
morrer quando se é idoso. É difícil aceitar que uma criança, com muita coisa
para viver, passe por uma situação de sofrimento e morte. Porém, cuidar de
crianças com doenças oncológicas avançadas também pode se tornar uma
experiência positiva quando os profissionais têm a sensação/sentimento de ter
feito o máximo possível na tentativa de amenizar o sofrimento do paciente e de
seu familiar, contribuindo assim para uma morte com dignidade.
Do mesmo
modo que geralmente os familiares não estão preparados para enfrentar as
perdas, a equipe também não está. É difícil reconhecer que é preciso entrar em
contato com a dor para evitar mais sintomas. Trabalhar no trauma antes que o
sintoma apareça é um dos grandes desafios para o ser humano. Geralmente, o medo
do profissional não dar conta, de chorar na frente do paciente ou dos
familiares, de não saber o que dizer a eles é bem maior do que a vontade de
entrar em contato com os sentimentos, elaborá-los e conseguir seguir em frente
de um modo mais saudável, evitando assim, o surgimento de sintomas. A equipe
frequentemente oferece apoio aos seus pacientes e familiares e não tem tempo e
espaço para elaborar seu pesar pelo sofrimento e morte de seus pacientes. Não
tem a sua dor reconhecida, mas sim silenciada.
Concluímos
no contexto da equipe multidisciplinar na Casa Durval Paiva que é preciso
cuidar de si e estar bem para poder cuidar do outro, ficar atento e ter um
espaço de escuta e acolhimento para as emoções e sentimentos que, muitas vezes,
são deixadas de lado. Ter uma atenção especial para separar o que são demandas
emocionais pessoais e o que é do outro é primordial para um cuidado de
excelência. O espaço de elaboração das perdas se faz útil e necessário para que
o profissional prossiga cuidando de outros pacientes que persistem na luta
incansável pela vida.
Assessoria de Comunicação Casa Durval Paiva
Foto relacionada à divulgação
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