Carnaval no Ano Bissexto
Por Salete
Pimenta Tavares*
O mês de
fevereiro é o mês mais curto do ano, com apenas 28 dias. Mas, de quatro em
quatro anos o mês é acrescido de mais um dia – o dia 29, registrando, portanto,
o ano 366 dias, o qual é chamado ano bissexto. Fevereiro é também considerado o
mês do Carnaval, visto que, geralmente o carnaval acontece no mês de fevereiro.
No entanto, vez ou outra, o carnaval é festejado também no mês de março. De
acordo com pesquisa feita no “Missal Quotidiano”, um livro preparado por D.
Beda Keckeisen O.S.B., editado e impresso nas oficinas tipográficas do Mosteiro
de São Bento na Bahia, nos anos 50, elaborado para facilitar o acompanhamento
dos fiéis ao Santo Sacrifício da Missa, se encontra a tabela das festas móveis
da Igreja, com as datas das Quarta–Feira de Cinzas, a partir do ano de 1956.
Como a
terça-feira de carnaval é o dia que antecede à quarta-feira de cinzas (primeiro
dia da Quaresma), pode-se saber exatamente o ano em que a terça-feira de
carnaval aconteceu no mês de março; são eles: 1957, 1960, 1962, 1965, 1973 e
1976; de 2000 até 2017, apenas em 2003, 2011 e 2014, o carnaval aconteceu no mês de março. (v. meu artigo “Carnaval em
Março”, escrito no Jornal Zona Sul – março de 2011).
Essa festa
que foi introduzida no Brasil pelos portugueses no tempo colonial, no ano de
1641 (v. Folhinha de Nossa Senhora de Nazaré – fevereiro de 2008), e que sempre
foi considerada a maior festa popular brasileira, com o povão brincando nas
ruas, se fantasiando de “cão”, de “papangus”, formando blocos de sujos,
dançando e cantando nas ruas marchinhas engraçadas, entre elas o “Ô Abre Alas”,
primeira marchinha carnavalesca, composta por Chiquinha Gonzaga para o Carnaval
de 1889 (v. meu artigo “Carnaval Antigo e suas Marchinhas”, escrito no Jornal
Zona Sul – fevereiro de 2010), além dos corsos, desfiles de carros alegremente
decorados, as serpentinas, confetes e lança-perfumes atiradas nos foliões, que
não passavam de uma brincadeira sadia, mesmo quando se tratava de atirar pó,
talco e maisena.
Contudo,
hoje, já não se pode considerar o carnaval uma festa popular, uma vez que a
festa se elitizou e surgiram grandes sociedades carnavalescas, com inúmeros
blocos que viraram Escolas de Samba, com suas riquezas de alegorias e
vestimentas caríssimas, dirigidas por pessoas influentes, “gente da alta”, como
se diz, cujo dinheiro não é problema, dificultando o acesso à participação nas
Escolas de Samba, de pessoas mais simples e mais humildes, ou até pertencentes
à comunidade carnavalesca, mas que não tem meios para arcar com todas as
despesas exigidas para participar do evento.
Sabemos que,
depois que passam os festejos natalinos e os de Ano Novo, começam os
preparativos para o carnaval. São três dias de muita alegria, três dias de
muita folia que, para muitos, vale pelo o ano inteiro. É o grande reinado de
“Momo”. A alegria toma conta de todos: ricos, pobres, brancos, pretos, velhos,
jovens, etc.; todos cantam e brincam num desabafo à monotonia da vida. Tudo
respira carnaval. As lojas e os camelôs aumentam suas vendas; por onde se
passa, até pelo chão tem o que se comprar: roupas, fantasias, chapéus de
diversos tipos, bonés, colares havaianos, máscaras, apitos, etc.
No Brasil
pode-se dizer que o carnaval acontece o ano inteiro, principalmente nas
comunidades onde existem escolas de samba. Elas passam o ano todo envolvidas na
criação e concretização do enredo da escola, na escolha das fantasias e
alegorias, no cuidado com os ensaios da escola, culminando no famoso “ensaio
geral”, que já é uma amostra real do que vai acontecer no sambódromo, cada uma
querendo mostrar o mais bonito e o mais rico espetáculo, na esperança de
conseguir a primeira colocação do desfile e ser a escola campeã do ano.
Alguns anos
atrás foi realizado, aqui em Natal, um carnaval fora de época, o qual foi
chamado de Carnatal. O primeiro Carnatal ocorreu no ano de 1991; foi realizado
no centro da cidade, mais precisamente na Praça Cívica, antiga Praça Pedro
Velho, com apenas três blocos participantes: Bloco O Caju, animado por Netinho,
o Banda Mel e o Banda Cheiro de Amor. A festa cresceu tanto, que foi necessário
outro local para abrigar tantos blocos, num total de mais ou menos 19 blocos e
seus componentes, acrescidos de mais outros carros, chamados carros de apoio
aos blocos. Atualmente em todos os Estados do Brasil, nas Capitais e em outras
cidades, acontecem carnavais fora de época, chamados “micaretas”, com
denominações as mais diversas possíveis; exemplo: “Pré-Caju”, em Aracaju,
“Fortal”, em Fortaleza, “Micarande” em Campina Grande, a primeira micareta
realizada fora do Estado da Bahia, “Nana Fest”, em Belo Horizonte, “Carnafacul”
em São Paulo, etc. O Carnatal é considerado a maior Micareta do Brasil e
consolidou-se como o principal evento do calendário turístico de Natal.
Foto relacionada à publicação
*Texto publicado na página do Jornal Zona
Sul
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