DA DÚVIDA DE
JUCURUTU
Alguns
historiadores mencionam Antonio Batista dos Santos como sendo o fundador de
Jucurutu por ter sido o construtor da Matriz de São Sebastião. Antonio era
filho de João Batista dos Santos e Maria Marcelina da Conceição, núcleo
relevante da família Batista do Seridó. Ocorre que existem dúvidas quanto ao
fato de que seja ele o fundador de Jucurutu. Dúvidas, aliás, bem fundadas.
Informações
e evidências recolhidas pelo Padre João Medeiros Filho, um dos maiores
intelectuais nascidos no chão do Seridó, demonstram que Jucurutu tem uma
história anterior digna de registro e sua fundação deve ser creditada aos
padres jesuítas. Aliás, tese colocada por Nanael Simão de Araújo no livro
“Jucurutu… antes que a história se esqueça” que, inclusive, transcreveu alguns
dos argumentos colecionados pelo acadêmico Padre João Medeiros: “A notícia mais
contundente que nos leva a afirmar que Jucurutu foi fundada pelos jesuítas,
tendo como patrono São Miguel, é a encontrada em Serafim Leite, onde diz:
‘Perseguido, os nossos (termo como os jesuítas chamam os confrades) se refugiaram
numa pequena aldeia, administrada pela companhia (de Jesus) que do Arraial
(Açu) dista cerca de dez léguas, à margem de um rio, povoado de Piranhas, que
banha igualmente o citado arraial”.
Padre João Medeiros também lembra a devoção dos jesuítas aos
anjos, protetores que a Igreja Católica cultua, razão pela qual o ilustre
pesquisador registra que a primeira devoção de Jucurutu foi a São Miguel
Arcanjo, tanto é que, por muitos anos, o lugar foi conhecido como “São Miguel de
Jucurutu”. Antonio Batista dos Santos, anos depois, conseguiu mudar o orago de
devoção, passando o padroeiro a ser São Sebastião. Mesmo assim, ainda hoje, no
mês de setembro, a Festa de São Miguel é celebrada como co-padroeiro da cidade.
Em relação ao nome da cidade, a mudança ocorreu no ano de 1938.
Ademais,
como lembra ainda a pesquisa de Nanael, outros fatos evidenciam a vida
jucurutuense antes da Igreja de São Sebastião, dentre os quais, o registro de
Câmara Cascudo que, desde 1767, o Capitão Manoel Antonio das Neves tinha terras
localizadas entre o “Saco da Inês e a Serra do Jucurutu”; que no período de
1797 a 1807 há registros de casamentos ocorridos na Fazenda Jucurutu; que
somente por volta de 1862 foi iniciada a construção da Igreja de São Sebastião,
sob o patrocínio de Antonio Batista dos Santos.
Assim sendo,
a tese do respeitável Padre João Medeiros, acompanhada pela pesquisa de Nanael
Simão, parece ter maior razoabilidade, ao afirmar que o fundador de Jucurutu
não foi Antonio Batista dos Santos, apesar de ter sido o doador do terreno e
principal construtor da Igreja, marco importante da história jucurutuense.
Aliás, sobre a Capela, as obras “tiveram início em anos de 1862, sendo a mesma
construída por ordem do senhor Antonio Batista dos Santos, em terreno por ele
doado para constituição do patrimônio da referida capela. A doação para o
patrimônio da Capela de São Sebastião foi legalizada em 16 de agosto de 1862,
pelo tabelião público da cidade de Caicó, José Maria Gonçalves Vale, cuja
escritura de doação resistiu ao tempo”, conclui a anotação de Nanael Simão de
Araújo.
Pelo relato,
os fundadores de Jucurutu, como presença portuguesa no lugar, foram os padres
jesuítas, membros da conhecida Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em
1534 por Inácio de Loyola, há muito reconhecido como santo pela Igreja
Católica. Chegaram ao novo mundo para uma missão de desbravamento, catequese e
alfabetização. Se tivessem permanecido no Seridó que a gente ama, certamente,
teríamos tido muito mais frutos de sua ação educadora.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó, advogado e membro do Instituto de Genealogia do Rio Grande do Norte /
com post na coluna do articulista em Substantivo Plural.
Foto relacionada à publicação/divulgação
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