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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Qual o bicho de hoje?

DO BICHO DE HOJE
Por Fernando Antonio Bezerra
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É quase certo que em qualquer profissão, em todos os segmentos, nas mais variadas áreas de atuação do homem, existem pessoas boas – a maioria – e outras que se desviam do caminho certo, não raro, por equívocos imotivados… Mas, de certo, é que tem gente boa e ruim em todos os lugares.

O Jogo do Bicho, no Seridó, não é diferente. Tem muita gente boa envolvida, apesar de ser uma contravenção penal desde 1941. É dito que tudo começou por volta de 1892 quando João Batista Vianna de Drummond, o Barão Drummond, pensou em uma maneira de atrair visitantes para o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, bem como, resolver problemas financeiras para manutenção do empreendimento.

Deu certo! O povo gostou da forma de sorteio e passou a frequentar o Zoológico em grande número. Depois, o Jogo passou a ter outra dimensão e finalidade. Tomou conta do País. Criou raízes e se entrelaçou com a cultura popular.

Nas nossas cidades do Seridó, o jogo tem crédito. As bancas são geralmente conduzidas por homens conhecidos e respeitados. Quem aposta sabe que, ganhando, receberá. O cheque do jogo do bicho tem, em regra, mais crédito que muitos outros que circulam no mercado. Algumas bancas, em atenção ao limite de suas próprias finanças, limitam apostas. Sabem o risco que correm e gerenciam possibilidades. Não deixa de ser um sinal de prudência. Hoje, se uma banca quebrar, lamentavelmente, dezenas de pessoas – além dos apostadores – amargarão prejuízos. Em uma terra de poucas oportunidades de trabalho, ser cambista do jogo do bicho é uma forma bastante procurada para fazer a feira da família. Aliás, os mais trabalhadores, bem relacionados, até são disputados pelas bancas, considerando que são bons vendedores, alcançam metas, fazem negócios.

O jogo do bicho é, de fato, muito presente na vida do povo seridoense. São inegáveis os seus reflexos econômicos em cada cidade e sua identidade com a vida local, em inúmeros aspectos, inclusive, na poesia de trovadores e poetas. Para a maioria, mesmo ainda com a dúvida da legalidade, é difícil não associar os números (de 01 a 25) aos animas. Muito raro é não conhecermos, pelo menos, uma pessoa que, sonhando com um animal, não corra para a banca ou cambista para fazer a aposta. E, mesmo eventualmente não jogando, não ficar curioso para saber a extração do dia. Sonhar e jogar, para alguns, é quase uma obrigação, considerando que as probabilidades de sucesso aumentam muito quando a sugestão vem através de um sonho. E quem sonha garante que a aposta é quase certa vencedora, mas depende muito da interpretação.

A propósito, ouvi recentemente que uma matriarca estimada de numerosa prole, muito espirituosa, amanheceu o dia dizendo que tinha sonhado com um gato grande e ia jogar no bicho. Uma filha ponderou: – mamãe, gato grande é tigre! A mãe concordou com a filha, mas interpretou diferente: – minha filha, eu sou é burra em não ter pensando assim. O bicho de hoje, então, será burro! Dito e feito. Jogou burro e ganhou. Portanto, mais perspicaz que qualquer outra, soube capturar dos acontecimentos a melhor sugestão.

Outros vivem atentos a detalhes que possam sugestionar um palpite, desde placas de carro até embalagens de mercadorias. Ademais, ainda tem combinações de milhar, centena e dezena que somente quem joga com frequência sabe fazer. E ainda tem as bancas que rodam os sorteios… Por muito tempo acompanhávamos a extração de Recife, ouvindo pelas Rádios de lá o resultado que mexia no bolso de cá.

Sem entrar muito no mérito quanto a legalização do jogo, se é devido ou não, o fato é que o bicho corre três ou mais vezes por dia nas cidades do Seridó que a gente ama, alimentando sonhos, estimulando pelejas, movimentando o imaginário e o bolso, uns com mais e outros com menos, mas fazendo circular a tradição que, pelo visto, já data mais de 100 anos e há muito caiu na graça do povo.

*Com post na coluna do autor, em Substantivo Plural
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