NOEL ROSA – 80 ANOS DO SEU ENCANTAMENTO
No dia 04 de
maio completa 80 anos do falecimento do poeta Noel Rosa. Falecia o homem porque
a obra é imortal e continua mais viva do que nunca. Suas músicas fazem parte
perene do nosso cancioneiro cantada diariamente onde houver celebração da
verdadeira Música Popular Brasileira. Noel ficou imortalizado mesmo tendo curta
e meteórica existência. Assim como Braz Cubas não deixou aos filhos que não
teve o legado da sua pobre existência física. “Não tenho herdeiros, não possuo um só vintém / eu vivi devendo a todos,
mas não paguei a ninguém/ meus inimigos que hoje falam mal de mim / vão dizer
que nunca viram uma pessoa tão boa assim”.
De Braz
Cubas sendo comido pelos vermes é também a certeza que as morenas sestrosas vão
ser comidas pela terra. Não era assim – mesmo- uma apaixonado pela vida e um
grande humorista da MPB que ele ajudou a consolidar. E quem ri melhor, é quem
ri por fim.
Nascido a
fórceps com um defeito no queixo. Foi apelidado de “queixinho” e viveu a vida –
boêmio em menos de 27 anos.
A partir de
uma paródia ao Hino Nacional, compõe “Com Que Roupa?”, seu primeiro grande
sucesso. Aos 19 anos já é famoso e vende milhares de discos. Torna-se ídolo do
rádio, é aclamado “filósofo do samba”.
O grande
sambista Wilson Batista apelou quando o chamou de “Frankstein da Vila” em
música que fez parte da celebre disputa musical travada entre dois dos maiores
sambistas brasileiro. Boêmio de muitos amores, Noel trocou a medicina pelo
samba e compôs quase três centenas de clássicos da MPB. Dos seus conhecimentos
como acadêmico de medicina ele compôs o anatômico samba “Coração”.
Foi
diplomado em matéria de sofrer e no samba. Em o “X do problema” ele mostra as
suas credenciais: eu fui educado na roda
de samba, eu fui diplomado na escola de samba, sou independente conforme se vê.
Participa de
uma linha evolutiva que tem início com o “Boca do Inferno”, passa pelo Sargento
de Milícias e deságua na melhor musica popular universal brasileira. Como
cronista canta a alma feminina e, décadas depois, terá um herdeiro da estatura
de Chico Buarque de Holanda.
Sua primeira
composição foi Minha Viola (Minha Viola
ta chorando com razão / por causa de uma marvada / que roubou meu coração
). Influencia da música nordestina que chegava ao RJ. Rio de Janeiro, cidade
mulher, cantada por Noel – um dos grandes cronistas de uma época em rápidas
transformações. O cinema falado estava chegando e Noel canta as transformações
que aquilo ia provocar na fala do malandro e seus Alô Boy.
O poeta da
vila teve grandes parceiros da estatura de Cartola, Braguinha ( João de Barros)
e Lamartine Babo. Com André Filho fez Filosofia. Com o grande poeta Orestes
Barbosa compôs Positivismo. Com o pintor e sambista Heitor dos Prazeres ele fez
Pierrot Apaixonado.
Um dos seus
mais profícuos parceiros foi o paulista do Braz Oswaldo Goliano (Vadico), com
quem compôs os célebres “Feitiço da Vila”, “Feitios de Oração”, “ Só pode ser
você”, etc.
Quem nasce lá na Vila/ nem se quer vacila /
ao abraçar o samba, / que faz dançar os galhos do arvoredo/ e faz a lua nascer
mais cedo.
Noel Rosa
conheceu Lindaura, uma operária com 15 anos de idade. Logo depois conhece a
dançarina Ceci e por ela se apaixona. Divide-se entre as duas mulheres,
trabalha muito, dorme pouco, vive gripado e fraco. Denunciado pela mãe de Lindaura
como raptor e sedutor de menores, é obrigado a se casar sob pena de prisão.
Descobre-se
tuberculoso e vai para Belo Horizonte e tenta recuperar sua saúde. Volta ao Rio
de Janeiro, reencontra Ceci e abandona Lindaura. Em encontros ocasionais,
engravida Lindaura. Ceci o deixa, e Lindaura perde o bebê. Uma tragédia de uma
meteórica vida. Ceci também amava o compositor Mário Lago. Esse triângulo
amoroso com quatro pés masculinos resultou numa das mais célebres músicas Noel:
“Pra Que Mentir”. Dilacerante. Elas merecem.
Um de seus
últimos sucessos é a antológica canção “Último Desejo”, em homenagem ao seu
grande amor, Ceci.
Último Desejo / Noel Rosa
Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o
seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem
bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada
falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último
desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você
lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você
me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que
eu não
presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei
sua vida.
Que eu não mereço a comida que você pagou
pra mim
*Com post na coluna do autor em Substantivo Plural
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