Congado
Por Wilson
de Lima Bastos*
Os congados
autênticos usam numerosos instrumentos musicais, mas todos de percussão. Parece
até que sem tais instrumentos não haveria congado. Marcam o ritmo, controlando
a melodia concentrada no canto, de que todos participam. O enredo é variável
conforme a região e daí designações diferentes para o que se conhece sob o nome
de congado.
Eis que
assim fala Luís da Câmara Cascudo: “Quanto ao enredo, os cucumbis diferem dos
congos. Para o Norte não há feiticeiro ressuscitando príncipe e, sim, este
morrendo às mãos do embaixador da rainha Ginga, indo prisioneiro o velho rei.
No registro de Melo Morais Filho, é um caboclo (indígena) o matador do príncipe
que volta a viver e há uma guerra entre os dois partidos. O cucumbi se espalhou
para o Sul. O congo recolhido por Pereira da Costa termina em festas e pazes
entre o embaixador e o rei. Em São Paulo, informa-me de Atibaia, o senhor João
Batista Conti, não há morte do príncipe e intervenção subsequente do feiticeiro
e sim uma guerra entre o rei e um general invasor, que é derrotado e batizado,
lembrando as cheganças. Em Goiás, o congado é uma embaixada da princesa Migúcia
ao rei seu primo que recebe com armas o enviado e depois de breve escaramuça o
proclama duque e mirante mor”.
O
regionalismo desempenha, então, função muito importante, sobretudo num país de
tão notáveis disparidades regionais como é o Brasil. O mesmo assunto folclórico
apresenta variantes interessantes, de região a região. O ambiente físico e
geológico muito contribuem para tal. Daí o necessário estudo das bases
regionais da cultura para a formação de uma verdadeira consciência do folclore.
Os próprios nomes são regionais, o que leva o pesquisador ao estudo comparativo
dos usos, costumes e folguedos, para as distinções entre um caso e outro. Por
exemplo: O que seria maracatu? É o mesmo Luís da Câmara Cascudo quem diz: “Os
maracatus são desfiles pomposos de um soberano negro com sua corte, bichos,
totens, a umbela muçulmana rodando sempre, ornamental e privativa dos reis,
ostentação magnífica de movimento e cor, seguida de cantigas com ou sem ligação
com os personagens”.
Terminemos
esta série de artigos sobre congado com o próprio autor do Dicionário do
folclore brasileiro: “As representações do rei de Congo, eram comuns em
Portugal, e Teófilo Braga, citando João Pedro Ribeiro, refere à festa de Nossa
Senhora do Rosário, no Porto: ‘ Acabou, porém, já no Porto outra mascarada, em
que se representava a corte del Rei de Congo, com seu rei e rainha e imaginária
corte, com que os pretos se persuadiam render culto à sua padroeira, a Senhora
do Rosário, função muito apreciada dos rapazes e que durava três dias de julho’
(O povo português e seus costumes, crenças e tradições, v.1, Lisboa, 1855,
p.313)”.
*Wilson de Lima Bastos. “Congado”. Lux
Jornal. 02 de outubro de 1966 (Transcrito de Jangada Brasil)
Foto: Adrovando Claro
- Com post na página do Jornal Zona Sul
0 comentários:
Postar um comentário