Temos com a liberdade uma relação de amor e
ódio.
Por Jomar
Morais, jornalista e editor do Planeta Jota*
Esteio de
nossas melhores utopias, a liberdade é certamente a aspiração mais intensa de
qualquer homem ou mulher, depois do
desejo de amar e ser amado.
O ideal de
agir conforme a própria consciência, de fazer opções e trilhar caminhos livre
de qualquer coação física e moral embala nossos sonhos e é a argamassa de
nossos melhores projetos pessoais e coletivos.
Pela
liberdade vivemos e, se necessário, até morremos - se não nos faltam o
idealismo e a coragem com os quais santos, “loucos” e heróis provaram ser
possível a materialização de cenários utópicos, refinando assim a dureza da
paisagem real.
Apesar
disso, a liberdade nos parece desconfortável, e até assustadora, quando,
finalmente, ficamos a sós com ela.
Como nos
casamentos realizados a toque de caixa, impulsionados pela paixão, a rotina e o
dever logo dissolvem a imagem idealizada da companheira e sobra a dificuldade
de lidar com as oscilações e
contradições de uma situação real, que só a sabedoria e o amor são
capazes de encarar e administrar.
A liberdade
que nos livra das vontades e do jugo alheios é a mesma que nos entrega o fardo
de lidar com a realidade, agir conforme as circunstâncias e nossos princípios e
crenças, ser responsáveis por nossas escolhas e colher os frutos de nossa
semeadura.
Trata-se de
uma contrapartida justa e proporcional e ao valor do presente que recebemos,
mas é aí que, quase sempre, completa-se
o paradoxo da rejeição daquilo que tanto amamos.
Como
crianças inseguras, descobrimos a nossa dificuldade de dizer sim ou não, de
realizarmos escolhas e aceitarmos pagar o preço de nossas opções. E não é raro
que, diante do medo, muitos optem pela “segurança” da sujeição a um salvador,
seja ele uma pessoa, uma doutrina, um partido ou mesmo o movimento de manada
através do qual as multidões reagem a ameaças reais ou imaginárias.
O preço da
liberdade – sermos responsáveis por nossas escolhas e ações – parece-nos bem
mais alto que o de uma existência sem criatividade e sem riscos, atada por
grilhões de apego, obediência cega e pela ilusão de poder transferir a alguém
ou a um grupo a responsabilidade por nossas vidas.
Não é
preciso ser um acadêmico ou cientista para perceber que, no dia a dia, esta é a
opção da maioria no nível da vida pessoal, ainda que escamoteada por nossos
discursos libertários. E, a partir daí, não é difícil entender porque, em pleno
século 21, ainda encontremos vozes clamando por ditaduras ou outras fórmulas
autoritárias, à revelia do pacto democrático, para resolver os nossos problemas
nacionais.
À parte a disputa
pelo poder, o argumento de ter alguém que nos livre da responsabilidade de
fiscalizar, cobrar, pressionar pelo funcionamento das instituições – sem
subvertê-las ou destruí-las para a satisfação de nossos caprichos – pode ser um
apelo sedutor para corações e mentes incomodados com o alto preço da liberdade.
*Com post em Outro Olhar na página do
autor
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