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domingo, 4 de dezembro de 2016

O paradoxo da liberdade

Temos com a liberdade uma relação de amor e ódio.

Por Jomar Morais, jornalista e editor do Planeta Jota*

Esteio de nossas melhores utopias, a liberdade é certamente a aspiração mais intensa de qualquer  homem ou mulher, depois do desejo de amar e ser amado.

O ideal de agir conforme a própria consciência, de fazer opções e trilhar caminhos livre de qualquer coação física e moral embala nossos sonhos e é a argamassa de nossos melhores projetos pessoais e coletivos.

Pela liberdade vivemos e, se necessário, até morremos - se não nos faltam o idealismo e a coragem com os quais santos, “loucos” e heróis provaram ser possível a materialização de cenários utópicos, refinando assim a dureza da paisagem real.

Apesar disso, a liberdade nos parece desconfortável, e até assustadora, quando, finalmente, ficamos a sós com ela.
Como nos casamentos realizados a toque de caixa, impulsionados pela paixão, a rotina e o dever logo dissolvem a imagem idealizada da companheira e sobra a dificuldade de lidar com as oscilações e  contradições de uma situação real, que só a sabedoria e o amor são capazes de encarar e administrar.

A liberdade que nos livra das vontades e do jugo alheios é a mesma que nos entrega o fardo de lidar com a realidade, agir conforme as circunstâncias e nossos princípios e crenças, ser responsáveis por nossas escolhas e colher os frutos de nossa semeadura.

Trata-se de uma contrapartida justa e proporcional e ao valor do presente que recebemos, mas é aí que, quase sempre,  completa-se o paradoxo da rejeição daquilo que tanto amamos.

Como crianças inseguras, descobrimos a nossa dificuldade de dizer sim ou não, de realizarmos escolhas e aceitarmos pagar o preço de nossas opções. E não é raro que, diante do medo, muitos optem pela “segurança” da sujeição a um salvador, seja ele uma pessoa, uma doutrina, um partido ou mesmo o movimento de manada através do qual as multidões reagem a ameaças reais ou imaginárias.

O preço da liberdade – sermos responsáveis por nossas escolhas e ações – parece-nos bem mais alto que o de uma existência sem criatividade e sem riscos, atada por grilhões de apego, obediência cega e pela ilusão de poder transferir a alguém ou a um grupo a responsabilidade por nossas vidas.

Não é preciso ser um acadêmico ou cientista para perceber que, no dia a dia, esta é a opção da maioria no nível da vida pessoal, ainda que escamoteada por nossos discursos libertários. E, a partir daí, não é difícil entender porque, em pleno século 21, ainda encontremos vozes clamando por ditaduras ou outras fórmulas autoritárias, à revelia do pacto democrático, para resolver os nossos problemas nacionais.

À parte a disputa pelo poder, o argumento de ter alguém que nos livre da responsabilidade de fiscalizar, cobrar, pressionar pelo funcionamento das instituições – sem subvertê-las ou destruí-las para a satisfação de nossos caprichos – pode ser um apelo sedutor para corações e mentes incomodados com o alto preço da liberdade.

*Com post em Outro Olhar na página do autor
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