Por Bené
Chaves*
Bons anos de
verdade foram aqueles da feminilidade e meiguice da A..., do ímpeto amoroso da
M..., da linda, querida e impetuosa G..., da morena e delineada D..., e da
sempre e irrequieta S... E por que não dizer da gostosa R..., que quando íamos à
praia ela saía do mar com aquele esplendoroso maiô amarelo deixando
transparecer algo além da imaginação?
Passados e
repassados seus esplendores, tudo aquilo foi uma tentação na minha
pré-adolescência. E como o tempo faz esquecer tudo, ficaram somente as sombras
de uma ilusão. De anos que não voltarão jamais, das pessoas que envelheceram
longe de mim, hoje apenas sentindo uma saudade de meus anos dourados.
Naquela
época a gente era feliz e não sabia...Bem diferente de hoje, claro. Hoje a
gente é infeliz e sabe. Infeliz diante das mazelas de um mundo que fica pior a
cada dia. Um mundo que já é ridículo e medíocre e onde a vulgaridade tem mais
valor do que a sapiência.
Lembro,
claro, do primeiro contato que tive com o sexo feminino, eu ali, com apenas
quatorze anos, um garoto que ainda usava calças curtas e brincava nas ruas e
cercanias de Gupiara. Se a memória não me falha acho que foi com A..., minha
então primeira namorada.
Um
deslumbramento que jamais esquecerei, aquela convivência carnal e inexperiente
na quase juventude que surgia com toda impetuosidade. Uma sensação de
maravilhamento quase indescritível... A minha afoiteza no apalpar de mãos,
rostos e outras partes proibitivas do belo corpo feminino. Um apalpar suave, um
rosto colado, um toque leve nos lábios...
Você tem a
impressão de que tudo vai desmoronar, tal sua avidez desenfreada e sofrida, o
suor frio escorrendo-lhe no rosto sem sangue e uma taquicardia a denunciar um
tremelique tortuoso e irrequieto no seu corpo.
Estamos aí
no chamado início do desejo e ao mesmo tempo entorpecimento, enfim uma vontade
louca de transgredir. Uma comichão dentro de si e intrinsecamente voltada para
as partes mais sensíveis, posto que, no auge, dar-se-á aquela batida forte no
coração.
E quando
você retorna de uma aventura dessas sente novo impulso de descarregar mais
ainda energia dentro de um ralo do banheiro. Aliviado que estás e com o
pensamento, enfim, para o seu primeiro contato, ou seja, aqui, no caso, a minha
parceira de relacionamento.
São sinais
insondáveis de uma idade pubescente, irrompidos e borrifados no âmago de um
ser, que se desabrocha e se separa para a posteridade. Então, surge, depois, a
fase da adolescência e a adulta, quando talvez se dê, conforme o caso, uma
promissora e independente sabedoria para tal fim.
Ou de uma
educação e raiz familiar razoáveis. É o início e indício de uma vivência ou
sobrevivência. Subverter a subvivência?
Mas, depois
de tudo acontecido ou a acontecer, cortando e voltando a contar uma de minhas
fases de devaneio, ah!, que devaneio!...Uma noite de amor com a bonita G... , uma garota já formosa nos seus
quinze aninhos.
Não lembro
bem dos detalhes, porém sei que vivi um momento de raro prazer para minha pouca
idade. E que eu cantara em prosa e verso, já naquele tempo ensaiando minha
modesta arte na literatura. Teria sido mesmo uma fantasia? De qualquer maneira,
outra ilusão na minha vida.
Fui a seguir
para o quarto e deitei-me, lógico, para dormir. Porém, como acontecia quase
diariamente comigo e também, acredito, acontece com boa parcela das pessoas,
fiquei de olhos fechados e pondo em ordem situações que depois apareciam na
minha mente.
Mas, as
imagens seguidas e vistas talvez deixassem dúvidas. E eu observava daí
estranhos comportamentos e desfigurações que me levavam a um quase delírio,
sobrecarregado de esplêndidos efeitos sonoros.
Se tal sonho
tivesse acontecido anos depois diria que me pareceu ouvir a harmonia de Nino
Rota no magnífico final de‘Oito Meio’, de Federico Fellini, misturada com a
musicalidade de Henri Mancini no também magnífico início do filme ‘A Marca da
Maldade’, de Orson Welles.
Não sei se
era imaginação ou pesadelo, mas continuei dormindo...
*Escritor, crítico de cinema e poeta / com post na página do Jornal Zona Sul.
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