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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Artigo destaca a brilhante trajetória do Padre João Agripino

Pe. Agripino: grande na cultura, gigante na simplicidade

Por Fernando Antonio Bezerra*

Pe. Agripino: enciclopédia ambulante
A quarta-feira de cinzas de 2016 foi ainda mais triste em alguns recantos de nossa terra, especialmente, nas ribeiras do Sabugi, Espinharas e Seridó. Quando termina um grande evento, em regra, um sentimento de vazio permeia as ruas e casas de nossas cidades e se agiganta quando, no mesmo dia, um grande nome, uma personalidade de visível peso histórico, parte para o horizonte que a fé nos faz enxergar. Na última quarta-feira, 10 de fevereiro, João Agripino Dantas, sacerdote e professor de gerações, entregou-se definitivamente à fé que professou durante a vida inteira.

João Agripino nasceu no dia 09 de novembro de 1924, no então Distrito de Cruzeta, Município de Acari, filho de João Batista Dantas e Maria Margarida Dantas. Desde cedo se sentiu vocacionado para o sacerdócio. Interessante anotar que outras duas irmãs - Estanislava e Olympia – também seguiram a vida religiosa, tomando hábito na Congregação Filhas do Amor Divino.

Menino de sítio, João Agripino Dantas aprendeu com a própria mãe a cartilha do ABC. Depois de estudar em Cruzeta, São José do Seridó e uma rápida passagem por Jardim do Seridó, ainda muito jovem, ingressou no Seminário São Pedro, em Natal, onde estudou de 1938 a 1943. Nos anos de 1944 a 1945 esteve no Seminário da Paraíba, em João Pessoa, e de 1946 a 1950 na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma. Aliás, foi ordenado sacerdote ainda em Roma, no dia 4 de março de 1950.

De volta ao Seridó, Padre Agripino, como passou a ser chamado pela maioria das pessoas, lançou-se na caminhada do magistério culminando, recentemente, com o reconhecimento de sua brilhante atuação através do título honorífico de Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi, de fato, um longo e bem firme caminho passando pelo Seminário Santo Cura d’Ars, Colégio Diocesano Seridoense, Colégio Normal de Caicó, Educandário Santa Teresinha, Colégio Comercial de Caicó, Centro Educacional José Augusto, Faculdade Cardeal Eugênio Sales e UFRN, instituições onde ministrou latim, matemática, português, educação moral e cívica, dentre outras. Como bem lembra o sabugiense e professor universitário João Quintino de Medeiros Filho em artigo sobre Padre Agripino: “cognominado enciclopédia ambulante”, um “grande sábio, sempre pronto a dividir os seus conhecimentos nas mais variadas ocasiões e lugares”.

O jornalista Aluísio Lacerda, na condição de ex-aluno, narra um episódio que ilustra a grandeza do mestre: “Nunca esqueço da primeira prova aplicada pelo mestre no 1º ano do científico, turma da ‘sala da caveira’. Mais de 50% da classe obteve nota vermelha. Na aula seguinte, Padre Agripino entra ligeiro na sala de aula (jovem, ele andava quase correndo) e comenta:

– A prova foi horrível. Vou anular o teste. Desaprendi a ensinar. E resumiu em 45 minutos toda a matéria dada até ali. Nova prova foi aplicada 3 dias depois e todos conseguiram bom conceito.”

Como sacerdote, Padre Agripino foi completo. Homem firme no exemplo, generoso na caridade, reverente à simplicidade e atento a obediência. Atuou em muitos lugares do Seridó, mas em Caicó, Jucurutu, Serra Negra do Norte, Jardim de Piranhas, Ipueira e São João do Sabugi fincou maiores raízes por ter assumido cargos de administração e pastoreio. Em São João, em particular, foi o primeiro Pároco e lá resolveu residir definitivamente nos últimos anos. Por onde passou – na Igreja e no Magistério - deixou marcas de simplicidade, honradez, firmeza e sabedoria. Em reconhecimento ao Padre que foi, a Igreja Católica lhe outorgou o título de Monsenhor, justa honraria eclesiástica que fez por merecer.

Monsenhor João Agripino Dantas faleceu aos 91 anos de idade. Na festa de seus 85 anos parecia antecipar uma despedida: “segundo a doutrina Cristã, a morte não é um fim definitivo, mas sim uma fase de transição para a vida eterna. A morte é a hora de voltar para casa, para a casa do Pai Celeste”.

E, assim, na fé, na esperança e na caridade, ele partiu deixando um grande vazio em São João do Sabugi e no Seridó. Há quem sustente que ninguém é insubstituível, mas, no caso presente, a tese deve ser reavaliada.

*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó. Com post na página do Blog Bar de Ferreirinha.
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