RAMOS DA MINHA OITICICA
Autor: Orilo
Dantas*
Doutô:
Tá vendo
aquela oiticca
Qui na ribanceira
fica
Prantada perto do rio
Vencendo o
só cor
de brasa
Istendendo a
verde asa
Na areia do
seu sombrio!
Ela tem
a sua histora
Feita de
amo e gulora
Dessa gulora
sem pá
Tem sido
durante a vida
Pras pessoa
disvalida
Arrancho,
cama e
hospitá.
Prus retirante
rasgado
Vindo
lá de
outos lado
Sem u’a drumida
certa
Ela acena
cunvidando
Chamando,
sempre chamando
Cum a mão
de fôais aberta.
Se seu
douto chegá perto
Avista logo
pru certo
Munta tira
pulo chão
Caída da
roupa suja
Cuma pena
de coruja
Na drumida
do grotão!
Vê logo
intirnada trempe
Qui veve
insperando sempre
Quem pede de
porta im porta
Triste migaia
de pão
Pra matá
a percisão
Qui a fome
já num suporta.
O cego
triste batendo
O alejado
gemendo
Cum a
ferida sangrando,
A
cumpanheira, coitada
Na areia fria
assentada
As mosca
crué inxotando.
Im meio
a tanta disgraça
Só um
arquém acha graça
A
criancinha inucente,
No seio
da mãe querida
Querendo qui
lhe dê vida
Já quem
a vida num sente.
Vou lhe
contá um segredo,
Se Arguém
corrê cum medo
É u’a
mocinha nua.
Lavando os
trapo qui tem
Pra dispois
saí também
Pidindo ismola
na rua.
Pois essa
veia oiticica
De tanta
bondade rica
Hoje tá sentenciada
Pulo seu
proprietaro,
Pra de
modo sanguinaro
Sê distruída
e queimada.
Seu douto, num
seio lê
Apelo pra
vosmicê
Qui num tem
istinto rui,
Faça
u’a carta pra
ele
Qui chegue
logo a mão
dele
Pidindo
na inscrita assim:
Eu lhe peço
meu patrão
Num corte
essa arve não
Tenha dó
e piedade!
De quem
anda pulo mundo
Taliquá um
vagabundo
Na dô
da necessidade.
Vosmicê cortando
ela
Vê uma górda
amarela
Saí do
tronco e
dos gaio,
É o
pranto da coitada
Pula raça
fragelada
Qui rola
sem agasaio.
Cortando essa
arve antiga
Devora
u’a mãe
amiga
Cheia de
santa bondade,
Qui vai
deixá no abondono
Sem ter
onde druma um
sono
Os seus
fio na orfandade!
E
quando lançada ao
fogo
Os pau
cumeça num jogo
Se queimando
cuma réu,
Aquele ringi
medonho
É um
lamento tristonho
Pidindo justiça
ao céu.
Justiça qui
hai de ser
feita
Pru que
justiça perfeita
Só insperamo
a de lá
Jesus qui
a tudo redime
Nunca perdoa
esse crime
Na mansão
celestiá.
É essa
a carta doutô
Qui lhe
peço pro favô
Fazê cum
munto coidado,
Sou testimunha
do tudo
E o
sinhô qui tem
istudo
Será dela
adevogado.
Num seio
se ele atende
E a
razão cumpreende
Desse nosso
procedê
Atendendo munto
bem,
Causo contraro
tombem
Cumprimo o
nosso devê.
Devê cum
a mãe de
ouro
Qui tem sagrado
tesouro
Guardado na
sua intranha
Qui na
bondade se assenta
E pru
mundo representa
Belo sermão
da montanha.
Seu douto
eu vou mimbora
Aperte minha
mão agora
E diga
cum Zé
Tambica:
Hai se
essa humanidade
Tivesse
ó meno
a metade
Do amô
dessa oiticica!
*Poeta popular seridoense, natural de Acari
com vivência na cidade de Ouro Branco. Post
na página de Geraldo Anízio.
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