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domingo, 11 de outubro de 2015

Alta costura nas mãos de minha mãe

Salete Pimenta Tavares*
         
Foto: divulgação
        Vez ou outra, eu volto aos e-mails que recebo de meus amigos – que estão salvos em pastas específicas e por ano de recebimento - para revê-los. Entre eles me deparei com um intitulado “Alta Costura”, que me foi enviado em 2010. O texto deste email, me emocionou bastante, pois me fez recordar um tempo em que minha mãe era a costureira da família, costurando as nossas roupas, com o curto tempo que sobrava de suas outras atividades como: mãe de oito filhos, dona de casa, responsável pelas compras e preparo de toda a alimentação da casa, enfermeira, quando estávamos doentes, professora, pois nos ensinou, alfabetizando, além de ajudar o aprendizado da matemática, através da taboada, etc. deixando-nos prontos para entrar na 2ª Série do curso primário, hoje ensino fundamental, uma vez que a 1ª Série era a série da alfabetização, entre outras atividades pedagógicas.
          Voltando ao assunto, é claro, que o texto me emocionou, pois a Alta Costura da qual fala o autor, que infelizmente não se identificou, mostra todo o amor e carinho das mãos de sua mãe, que costurava não só roupas, mas os sentimentos que devem envolver a família como um todo.
          Vejamos o texto: “Alta Costura”
“No tecido da história familiar, as mãos de minha mãe reforçaram as costuras para nos protegerem de qualquer empurrão da vida...
          As mãos da minha mãe uniram com um alinhavo as partes do molde sem esquecer que cada uma é diferente da outra e que juntas fazem um todo como uma família...
          As mãos de minha mãe fizeram bainhas para que pudéssemos crescer para que não nos ficassem curtos os ideais...
          As mãos de minha mãe remendaram os estragos para voltarmos a usar o coração... sem fiapos de ressentimentos...
          As mãos de minha mãe juntaram retalhos para que tivéssemos uma manta única que nos cobrisse...
          As mãos de minha mãe seguraram presilhas e botões para que estivéssemos unidos e não perdêssemos a esperança...
          As mãos de minha mãe aplicaram elásticos para nos podermos adaptar folgadamente às mudanças exigidas pelos anos...
          As mãos de minha mãe bordaram maravilhas para que a vida nos surpreendesse com as suas contínuas dádivas de beleza...
          As mãos de minha mãe coseram bolsos para guardar neles as moedas valiosas das melhores recordações e da minha identidade...
          As mãos de minha mãe, quando estavam quietas... zelavam os meus sonhos para que alimentassem os meus ideais com o pó das suas estrelas...
          As mãos de minha mãe seguraram-me com linhas mágicas, quando entrava na vida... para começar a vesti-la!
          As mãos de minha mãe nunca abandonaram o seu trabalho...
          E sei muito bem que hoje, onde estiverem, fazem orações por mim...
          E eu... Eu beijo-as como recebessem bênçãos!”
          E assim, a gente poderia ir costurando o tempo, costurando as pessoas que amamos, costurando o amor verdadeiro, costurando a auto estima, costurando a felicidade, para que tudo ficasse bem pertinho e não sumissem; costurando a saudade e a lembrança no fundo do baú, para que elas não fugissem, pois estas lembranças são exclusivamente nossas e fazem parte da nossa história.
          Enfim, como a verdadeira história das mãos da mãe do autor, para mim, essa história também representa as mãos de minha mãe, e com certeza, a de todas as mães que se sacrificaram para ver sua família unida e feliz.

*Texto publicado no Jornal Zona Sul


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