Manoel Dantas e “O Problema das Secas”
Por Fernando Antonio
Bezerra*
Talvez alguns amigos me
critiquem pela insistência, mas, relendo Manoel Dantas, proponho mais uma
reflexão sobre o quarto ano de seca que abate Caicó, a Região do Seridó e o
sertão nordestino. Mas, antes de transcrever algumas de suas anotações, é
importante lembrar que Manoel Gomes de Medeiros Dantas, jurista, professor,
jornalista e político, filho do casal Manuel Maria do Nascimento Silva e Maria
Miquilina de Medeiros, ocupou diversos cargos importantes na vida pública do
Rio Grande do Norte, inclusive, a Prefeitura de Natal.
Nasceu em Caicó-RN aos
26 dias do mês de abril de 1867 e faleceu, em Natal-RN, aos 15 de junho de
1924.
Manoel Dantas, como era
conhecido, fundou em Caicó o jornal “O Povo” (1889 a 1892) e, em Natal, a
primeira versão do “Diário de Natal” (1893), além de ter atuado longos anos em
“A República” onde, inclusive, foi diretor. No jornal “A República”, no período
de Julho a Outubro de 1901, Manoel Dantas publicou uma série de artigos que
formam o ensaio “O Problema das Secas”, conjunto de informações e comentários
impressionantemente atuais.
Começa Manoel Dantas
dizendo: “Não estará longe, talvez, o dia em que os poderes públicos ou a
iniciativa individual tomem a peito resolver esse problema, aliás de fácil
solução, e se convençam que os milhares de contos de réis que tem sido gastos
nos tempos de calamidade, produzindo efeitos mesquinhos, si tivessem sido
aplicados aos meios que a ciência, o bom senso, a experiência própria e o
exemplo de outros povos aconselham para neutralizar os efeitos dessas crises
climatéricas que são as secas, já teriam, com certeza, evitado as destruições
que elas acarretam, ter-se-iam arredado as perturbações por elas trazidas à
nossa vida econômico-social (sic)”.
Manoel Dantas vai
adiante. Analisa experiências em outros Países; sustenta as alternativas dos
açudes e poços; fala em irrigação e se antecipa a sugerir silagem. Mesmo
reconhecendo a importância do algodão, Manoel Dantas apontava as perspectivas
do leite para o Seridó: “A indústria do leite será uma das maiores fontes de
riqueza do sertão, quando se generalizarem as leiteiras.” Ele próprio relata
que a cultura do algodão e o melhor aproveitamento do leite foram aprendizados
da grande seca de 1877. “Precisávamos uma vez por outra ter um 77 para
aprendermos a viver.”
Das muitas ideias
escritas por Manoel Dantas, certamente, o leite se destacou. Depois do algodão
e do minério, o Seridó voltou-se, novamente, para a criação de gado, sua
primeira vocação, mas, agora, com melhoria genética e boa produção de leite.
Mas, o sertanejo está perdendo sua vacaria. Não tem suficiente água e comida
para alimentar o rebanho. A pouca água para seu próprio consumo, divide com a
vaca que tem leite. Com o gado solteiro - ainda não vendido - divide a
incerteza da sobrevivência. Como não tem pasto, compra ração e como não tem
dinheiro para tanto, escolhe quem vai pagar no mês: o armazém ou o mercadinho.
O sertanejo olha o
horizonte e o céu está limpo. Já é final de maio. Poucas esperanças. Liga o
rádio ou a televisão e o socorro público pouco diz. Os que falam, garantem a
água para consumo humano, vinda de caminhão, para a zona rural e, com otimismo,
a transposição do Rio São Francisco para os Rios Apodi e Piranhas-Açu em 2017.
Até lá, infelizmente, o que se ouve dos meteorologistas, mesmo em análise
preliminar, não é nada animador. Enquanto isso... Pois bem, que Deus tenha
piedade de todos nós!
“Meu fim é somente uma
propaganda no sentido de se tomar a sério o problema das secas, de todos se
interessarem por ele desde que ele a todos afeta, e mostrar que há lições
proveitosas, as quais bem aplicadas, dariam excelente resultado”.
Quem escreveu? Manoel
Dantas, há 114 anos, tempo em que os homens públicos dedicavam maior tempo a
estudar alternativas e eram mais solidários com as angústias do sertão!
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó
- Com post napágina do Bar de Ferreirinha
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