Por Fernando Antonio
Bezerra*
Era uma vez uma cidade
nordestina que tinha um açude. Era um lindo açude que, cheio, espalhava água
por recôncavos e planícies brotando esperança e gerando vida!
À cidade foi dado um
nome: Ociac. Ao seu formoso açude também foi dado um outro sugestivo nome:
Snati.
Não foi fácil construir
o Açude. Reuniram-se centenas de trabalhadores em uma época onde não existiam
máquinas potentes. Era a força do trabalhador aliada a rusticidade de animais e
alguns poucos veículos sob um comando alemão. O Açude foi construído. Nunca foi
gravemente danificado. Suportou invernos e memoráveis sangrias d’água. Foi
durante décadas a maior alegria da cidade...
Mas, a estiagem
prolongada foi despindo o velho Açude que, constrangido, parecia ter vergonha
de se mostrar. A terra, antes escondida pela verve da água, aflorou em bancos
de areia, tornando impossível a travessia, a pesca, o mergulho, o empréstimo
para as fruteiras e capineiras. A água, antes reinante, deu lugar a sisudez da
terra que, seca, infelizmente, apenas recepciona o cansaço, a angústia e a
incerteza.
Nos tempos de Seca,
contudo, poderiam ter revitalizado o velho Açude. É natural que a água, nos
invernos, traga partículas de areia e, pouco a pouco, diminua a capacidade de
armazenamento do reservatório. O Açude, como qualquer outro empreendimento,
precisa de cuidados, manutenção e reparos. Dizem, os mais velhos, que a Seca
pode ser uma rica oportunidade para manutenção, ampliação e construção de
reservatórios d’água. Poucos, entretanto, aproveitam a Seca.
O velho Açude, enfim,
assistiu a tudo com a mesma fidalguia, esperando que o homem, qualificado pelas
letras universitárias e ungido como autoridade, promovesse sua modesta
recuperação. Não o fez. Infelizmente. Na cidade Ociac tinha mobilização para tudo,
desde jogo de bozó até o mais alto interesse, mas faltou a defesa do Açude que
tantas alegrias havia lhe dado.
A Seca impiedosa foi se
repetindo, mudando valores, impondo hábitos, deixando quase ao abandono a dor
do Açude que se viu abandonado pelas águas e pelos amigos. A Seca é feroz e,
quando chega, bate em todas as portas, sem qualquer distinção.
O Açude, por sua vez,
sangrando pela indiferença do homem e pela dor da Seca, resignadamente, aceitou
seu destino. A Seca lhe tirou tudo!
Açude seco, terreno,
Só mesmo quem te conhece
Pensa em fazer uma prece
Pra que o sol fique ameno;
E a chuva que abastece
Ver se logo em ti desce
Este é o melhor aceno.
(Walter Medeiros, DRT RN)
Hoje, com limitações, a
estória foi genericamente contada e serve como um primeiro alerta. Seria muito
bom que ao final do artigo as perspectivas fossem diferentes, mas, pelo ouvimos
até hoje, também o Açude Itans, lamentavelmente, está secando em decorrência da
grave e atual estiagem que começou em 2012.
*Fernando Antonio Bezerra é seridoense de Caicó
-Com post no
Blog Bar de Ferreirinha
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