ADEUS PALOCHA.
Por Dr. Carlos de
Miranda Gomes*
Nossa convivência teve
somente uma dúzia de anos. Começou nos encontros na Livraria Poty, depois no
Sebo Vermelho e na Livraria Câmara Cascudo. Desde logo me afeiçoei a ele, pela
sua humildade e boas tiradas nos poucos momentos que resolvia falar.
Formamos uma verdadeira
Confraria e nos finais de ano nos reuníamos para uns comes e bebes. Ele nem
bebia, nem comia muito - não dava prejuízo a ninguém.
Ultimamente estava
faltando aos encontros e comentávamos que ele estava ficando fraco. As forças
já não permitiam grandes caminhadas.
De repente, lendo o
Jornal de WM do último dia 27 de agosto deparei-me com a notícia:
"Tempo de
Palocha", onde o excelente articulista, em brilhante resumo, pintava o
nosso querido amigo, com as tintas exatas de sua existência.
"Fecham-se as
cortinas do Cineclube do Tirol, mas ouvem-se ain da as últimas notas da trilha
sonora anunciando a partida de Paulo Francineti da Rocha, Palocha. Na segunda
feira ele partiu para a última viagem e, lá em cima, numa visão bem
cinemascope, se reencontrou com Moacy Cirne e outros doces loucos apaixonados
pelo cinema. Palocha foi um dos fundadores do Cineclube Tirol, Natal do começo
dos anos sessenta, o pessoal marcando ponto no Salão Paroquial da Igreja de
Santa Terezinha, no Tirol. Eram exibidos ali os filmes raros, encontrados com
dificuldades entre cinéfilos de paixão verdadeira, muitas dessas películas
trazidas, como joias, além dos limites da província. Tempo dos 16 milímetros. O
Cineclube Tirol passou a ser um marco no fazer cultural da cidade. Lá se viam
poetas, escritores, artistas plásticos, músicos, amantes do cinema.
Palocha, discreto,
simples, humilde, mas bem articulado, era um dos líderes do movimento. Figura
singular na paisagem humana natalense, sabia ser ouvido, conquistava simpatia,
fazia amigos."
O artigo de Woden não
termina aqui, todos devem ler a sua respeitável coluna, pois somente a
sensibilidade de um cronista da cidade é capaz de perceber que, entre pessoas
humildes, também existem grandes personagens da nossa história.
Não ficou por menos a
Cena Urbana do estimado e respeitado Vicente Serejo que, em sua coluna de 28 de
agosto revelou "O sonho de Palocha" e também foi tomado de surpresa
com a triste notícia (bateu no rosto como um soco).
"Nem lembrava mais
que Paulo Francineti da Rocha era o seu nome completo. Pra quê, se ele gostava
de ser só Palocha, numa simplicidade sem mágoa? Sabia exercer seu ofício de
guardador de lembranças. Era sua grande nobreza, quase invisível, meio
escondida naquele seu corpo franzino que parecia flutuar de tão leve. ... Sabia
tudo de cinema sem aquele pedantismo tolo dos cinéfilos." ...
Seu sonho não se
realizou - não tirou na mega-sena e não pôde comprar o o prédio do Rio Grande. Agora
a casinha da Av. Afonso Pena, 591 é só uma lembrança do seu habitante ilustre.
Certamente - outra
Confraria está agora reunida. Além de Moacy Cirne, lembro Tarcísio Motta, o
mais vexado a partir, depois o Embaixador (Fernando Abbott), o Acadêmico Pedro
Vicente Costa Sobrinho, Dr. José Pinto, Alma do Vaqueiro (Francisco de Paula
Medeiros), e agora ele.
Vai deixar saudade e
órfãos os seus muitos amigos. Deus o proteja "ad perpetua memoria".
*Postado na página do SEBO VERMELHO
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