(Depoimento em forma de poema)
Araceli Sobreira
Benevides*
A palavra que vem do Outro...
A enorme procura.
A ânsia de viver outras vidas,
de não ser eu mesma,
mas, ao mesmo tempo,
ser, sem ser a mesma...
Palavras outras, palavras minhas,
substanciadas em conteúdos
devorados, trocados,
sonhados, re-colhidos...
Um amor despertado em
páginas-mundos agitados,
removidos,
rememorados,
transportados para outra esfera,
que me trazem para o aqui,
o agora e o porvir, também.
Enxergar melhor o que em mim é o mesmo,
o diferente, o disperso, o ausente, o
silêncio.
Em lendo, emergir na voz interna que grita:
“Corre, vá, mundo afora...”
Embora esteja presa neste corpo que apenas
gira a página.
Em lendo, transformar-me em tudo.
Embora os olhos se retraiam, míopes,
cansados.
Outros olhos, não mais perdidos:
Só brilho, encanto, mito.
E as palavras?
Lendo-as, torno-as minhas,
Recebo-as em pensar, em colheitas fartas,
Em compartilhar.
Escrevendo-as, retiro de mim o que me
doaram.
De um jeito entraram,
de outro jeito saem: fluidas, mágicas,
plurais em tom, rimas, canto e coro.
Lendo-as, relendo-as,
um amor eterno, juvenil,
antes mítico, hoje meta.
Devorar o mundo das letras,
Sendo voraz nessa fome sem fim: ler, ler,
ler!
*Poetisa. Contista. Professora de Língua Portuguesa
e Literatura da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Autora do livro
“O Chamado – ou um cântico para a liberdade e outras poesias”. Pesquisadora da
área de Leitura e Formação Docente.
- Com post na página da autora
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